Nascido na jovem e noturna cidade de Hamburgo, onde a cultura punk e artística é disseminada, o St. Pauli, bebe nas fontes de seu nascedouro. O Millerntor-Stadion, se encontra exatamente na rua mais badalada do distrito, a famosa Reeperbahn. O time foi adotado pela comunidade local, como algo para além de uma equipe, uma espécie de estilo de vida.

Fundado em 1910, a equipe de fato, não é lembrada por muitos títulos e campanhas de destaque, o time frequentou em alguns momentos a principal liga alemã na década de 30 sendo rebaixada imediatamente após o acesso e passando por vários acessos e rebaixamentos seguintes. A existência informal do clube, vem ainda do século 19, em 1899, quando um grupo de nadadores, fundaram o núcleo não-profissional do clube, mas a primeira partida "oficial" aconteceria apenas quase dez anos depois, em 1907.

A grande guinada do "fenômeno cult" do clube, veio nos anos 80, quando eles se transferiram para a região portuária, e os punks, as prostitutas e principalmente a população homossexual do bairro, começou lentamente a criar uma relação única com o time, o que trazia aos clubes visitantes, uma espécie de surpresa ao ver a cor e a vida pulsando nas arquibancadas do time. Os anos 80 não foram fáceis para a Alemanha, em crise econômica, muitos grupos de extrema-direita, (devemos lembrar sempre que estamos falando do país que eclodiu o nazismo) começavam a usar o futebol para se expressar. E o clube do St. Pauli, e sua torcida militante, se levantavam como um efetivo núcleo de resistência.

 
Em 1984, torcedores do rival Hamburgo SV e do Borussia Dortmund incendiaram casas da Hafenstrasse, uma rua próxima ao Millerntor-Stadion. Esse evento, e o preconceito que o clube começou a sofrer por sua torcida, fizeram desse levante algo ainda mais necessário. O St. Pauli foi o primeiro clube em TODA A ALEMANHA, a expulsar torcedores nazistas de sua arquibancada, deixando assim seus frequentadores ainda mais a vontade para serem coloridos, autênticos e libertários.

Esse fenômeno, fez com que muitas pessoas, mesmo sem gostar de futebol, se identificassem com o clube, que passou a adotar bandeiras de causas sociais, aliás, logo após o atentado sofrido pelos hooligans alemães, uma bandeira pirata foi asteada no estádio do St. Pauli e desde então, é quase como um segundo emblema do time.

PIONEIRISMOS

Entre 2002 e 2010, o St. Pauli foi presidido por
Cornelius "Corny" Littmann, um artista e empreendedor do teatro alemão, homossexual assumido e também proprietário de um teatro, uma figura muito respeitada nas artes em seu país. O mandato de Corny, trouxe ao clube muitas inovações ideológicas, que levaram o clube a ser o primeiro time a banir cantos sexistas e racistas das arquibancadas. O clube também atua em muitas causas sociais, colaborando com desabrigados e em campanhas contra o racismo e a homofobia. 

As médias de lotação do estádio são surpreendentes, chegando quase a sua totalidade, e isso tomando como base toda uma temporada. O time também tem a maior torcida feminina, por percentual de adeptos, na Alemanha, muito disso pelas medidas adotadas para que as mulheres se sintam confortáveis nos estádios.

O St. Pauli conseguiu o acesso para a primeira divisão alemã no ano de seu centenário, de onde estava fora desde 2001. Nem é preciso dizer que a festa de comemoração foi uma das mais emblemáticas já registradas na história da Bundesliga. Para comemorar o fato, o time promoveu um festival de cultura e um torneio interno, anti-racista, com a renda revertida para instituições que combatem o racismo.

No ano passado o clube voltou aos noticiários internacionais, por dispensar o atleta
turco Cenk Sahin, que havia declarado apoio às tropas na ofensiva contra os curdos na Síria. Segundo a comunicação social do clube, foi uma decisão coletiva tomada por torcedores, conselheiros e dirigentes.