*Antes de começar a tecer qualquer palavra nesse texto, gostaria honrosamente de agradecer ao historiador Raymundo Quadros, que nos deixou nesse domingo (20/10/2019). Na sexta-feira anterior ao seu falecimento, em uma agradável conversa, ele como ex diretor/conselheiro, pesquisador e verdadeiramente apaixonado pelo seu clube, nos forneceu as peças faltantes para fechar essa seleção, com dados e informação que apenas ele mesmo seria capaz de fornecer. Esse texto, é em sua homenagem.
Time do São Cristóvão campeão carioca de 1926 . O elenco principal contava com Paulino (goleiro); Póvoa e Zé Luiz (zaga); Julinho, Henrique e Alberto; Osvaldo, Jaburu, Vicente, Baianinho e Teófilo (linha média e ataque) . Participaram ainda da campanha os suplentes Doca, Mendonça, Martins e Luis Vinhaes, que depois se tornou o técnico da equipe e posteriormente comandou a seleção brasileira de futebol.
Os caminhos do futebol não são comumente traçados por linhas retas, são curvosos como o percurso da bola nos chutes de Didi. Se voltássemos às primeiras décadas do século passado, com o efervescente caldeirão cultural do Rio de Janeiro, que emoldurou parte da cultura futebolística brasileira, nos depararíamos com o time do Bairro de São Cristóvão entre os maiores clubes do cenário estadual. O Estádio Figueira de Mello, atual Estádio Ronaldo Luís Nazário de Lima, fundado em 23 de abril de 1916 guarda alguns capítulos únicos, desde os primeiros gols do Fenômeno, até a primeira partida em que o Santos Futebol Clube, usou seu uniforme tradicional, o clube da Baixada Santista, manteve o uniforme branco em homenagem ao time carioca. A mítica partida aconteceu no amistoso de inauguração do Figueira de Mello, e os uniformes tiveram que ser trocados, pois, a lama que não impediu o jogo, sujou os fardamentos das duas esquadras.
Ainda sobre curiosidades inusitadas ligadas ao São Cristóvão, e ainda sobre uniformes, o clube dos cadetes, (assim chamado por sua tradição nas regatas, e ser originalmente um clube de remo, assim como a maioria dos grandes times cariocas) é o único reconhecido pela FIFA a possuir apenas um uniforme oficial. O conjunto com camisas, meias e shorts brancos é o símbolo maior do clube. Que usou segundo uniforme apenas em raríssimas ocasiões na sua centenária existência, obrigando todos os adversários do clube a jogarem com seus kits reservas, no caso de serem alvos.
Ainda sobre curiosidades inusitadas ligadas ao São Cristóvão, e ainda sobre uniformes, o clube dos cadetes, (assim chamado por sua tradição nas regatas, e ser originalmente um clube de remo, assim como a maioria dos grandes times cariocas) é o único reconhecido pela FIFA a possuir apenas um uniforme oficial. O conjunto com camisas, meias e shorts brancos é o símbolo maior do clube. Que usou segundo uniforme apenas em raríssimas ocasiões na sua centenária existência, obrigando todos os adversários do clube a jogarem com seus kits reservas, no caso de serem alvos.
Quando o Torneio Início do Campeonato Carioca ainda era disputado, o São Cristóvão venceu em 1918, 1928, 1933 e 1937, e foi vice-campeão em outras seis ocasiões. Em 1920, 1925, 1927, 1938, 1940 e 1964, num total de dez decisões disputadas no torneio.
Eis a seleção de atletas revelados no time principal ou que tiveram sua primeira iniciação na base do São Cristóvão, a lista é composta por alguns nomes consagrados na história do esporte:
No gol, Orlando Alves Ferreira, popularmente conhecido como Orlando Gato Preto, considerado um dos mais lendários arqueiros do futebol paulista, um símbolo dos maiores dias da Lusa paulista. Recebeu esse apelido em virtude de seu alcance aéreo e incrível agilidade nas metas. Começou a jogar pelo São Cristóvão em 1958 permanecendo por dois anos na base do clube.
A zaga começa com Oswaldo Jericó, que é reconhecido por ser um dos jogadores que mais vestiram a camisa do Palmeiras, em 155 ocasiões, mas começou sua trajetória profissional nas bases do São Cristóvão. Seus companheiros, são duas entidades do futebol, Augusto da Costa, que além de defender a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1950, era o capitão da equipe até se lesionar durante a competição. Jogou no clube entre 1936 e 1944, mas se notabilizou nacionalmente jogando pelo Vasco da Gama, de 1945 até sua aposentadoria em 1954, no qual disputou 297 partidas. O gigante Zózimo, Nascido em Salvador, foi para o Rio de Janeiro aos 16 anos tentar sua vida no futebol, onde o São Cristóvão o acolheu por dois anos entre 1948 e 1950, até esse começar sua brilhante carreira como profissional atuando pelo Bangu. Bicampeão em 1958 e 1962 pela seleção brasileira, esse é um dos nossos maiores talentos em Todos os Tempos.
A linha média começa com um polivalente, Jordan da Costa, ou simplesmente Jordan, que jogava tanto como volante, tanto como lateral-esquerdo. Um mito, considerado o melhor marcador de Garrincha, o defensor nunca fora expulso em toda a sua carreira. Começou profissionalmente pelo São Cristóvão em 1951, de onde foi para a sua brilhante carreira de 11 anos e 608 jogos pelo Flamengo. Seu companheiro, é também polivalente, Michel Ferreira dos Santos, joga atualmente e defende o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, onde joga como volante, lateral esquerdo e meia, e foi um dos integrantes da conquista do time no Copa Libertadores da América em 2017. Rodrigo Souto campeão carioca pelo Vasco em 2003 e paulista pelo Santos em 2006, um jogador bem rodado no futebol brasileiro, também começou profissionalmente no time.
João de Menezes Cantuária nasceu em Minas Gerais, em 1893, era neto de um importante general brasileiro. Mudou-se para o Rio de Janeiro na adolescência. Cantuária começou a jogar ainda aos 15 anos e estava na reunião histórica, ao lado de outros 20 jovens, que fundou o São Christóvão Athletic Clube, em 5 de julho de 1909. Era um jogador muito inteligente, com perfil de liderança. Rapidamente, mesmo jovem, se tornou capitão e posteriormente treinador do time. O meio campista atuou por diversas vezes na Seleção Carioca e jogou duas vezes pela seleção brasileira da época, que ainda não era oficializada. Com 31 gols marcados em campeonatos cariocas, ainda é um dos principais artilheiros do São Cristóvão no estadual.
O ataque desse selecionado é pura arte. Comecemos por Humberto Tozzi, que chegou ao clube em 1952, ainda na base, de onde saiu para o Palmeiras e marcou impressionantes 126 gols em 135 partidas oficiais, entre 1953 e 1956, integrando os quadros da seleção brasileira nesse período, onde jogou a Copa do Mundo de 1954. Talvez por ter se transferido para o futebol italiano em 1956, onde jogou pela Lazio até 1960, não foi visado para a Copa de 1958, mas era de fato um dos maiores nomes do Brasil enquanto jogou futebol. Seus companheiros são pura fábula e quase dispensam apresentações, o lendário Leônidas da Silva, estreou pelo clube em 1929, onde jogava na base antes de impressionar o clube do Syrio Libanez.
Ronaldo Luís Nazário de Lima que hoje dá nome ao estádio, chegou na base, tímido, franzino, mas segundo muitos funcionários do clube que lá estavam desde a época do início do craque, nunca deixou dúvidas sobre seu talento, sendo destaque em categorias de base. Ronaldo ainda atuava pelo São Cristóvão quando teve suas primeiras convocações para a seleção brasileira de base, inclusive, o campeonato sul-americano de 1993, onde foi artilheiro com 8 gols, aos 17 anos, e após meteórica aparição no Cruzeiro, em menos de um ano, estaria ao lado das feras que conquistaram a Copa do Mundo de 1994, como reserva e campeão mundial aos 18 anos de idade!