A primeira grande geração do futebol inglês surgiu na década de 1890. Foi o ponto alto da rivalidade Inglaterra-Escócia. A frente de ataque inglesa mais usada (Bassett, Cobbold, Goodall, Smith e Bloomer) ainda é apontada como a mais talentosa frente da história do futebol inglês. A referência maior era Steve Bloomer, o primeiro "super-goleador" da história do futebol mundial.


Bloomer era um "inside-foward" mais inclinado para o lado direito (também opcional como extremo e avançado centro) com um futebol directo, super veloz e letal, pese embora que no ponto de vista técnico não seja tão brilhante como os seus colegas. Tratava-se de um avançado rápido a decidir nas movimentações e nos remates, muito bom em "volleys", dotado de um pontapé fortíssimo que saía de ambos os pés. A sua mais conhecida jogada chamava-se "Daisy Cutter". Essa jogada consistia em finalizar um cruzamento ou uma jogada de um colega atacante com um preciso e forte remate (rematava de qualquer ângulo), isto depois de desferir uma corrida direccionada à área adversária, desmarcando-se e surpreendendo o adversário (Bloomer era capaz de fazer 100 jardas em 11,5 segundos). Era, sem dúvida, bastante oportunista e perfeito para receber e fazer o golo. Apesar de pouco dotado tecnicamente, detinha um excelente primeiro toque que era expressado, quer em forma de remate, quer em forma de passe. Pelo seleccionado combinava-se muito bem com jogo técnico e "playmaker" de Gilbert Osvald Smith. No entanto, era bastante criticado pelos seus contemporâneos por ser preguiçoso, errático e pouco combativo. Ocasionalmente nem era apontado como sendo um futebolista superior a Smith ou Cobbold, por exemplo.

Bloomer começou a sua carreira ao serviço do Derby County em 1891 (como amador, para depois se converter como profissional um ano depois) e retirou-se no final da época 1913-1914. O Derby foi o clube da sua vida. Pelos "carneiros" jogou 525 jogos e marcou uns fantásticos 331 golos, de entre 1891-1906 e 1911-1914. Pelo meio representou o Middlesbrough FC, com 130 jogos e 60 golos. Não teve a felicidade de conquistar troféus colectivos relevantes, sendo que as suas melhores prestações colectivas resumem-se a um segundo posto no máximo escalão inglês em 1895/96 e a segunda divisão de 1911/12, para além de ser finalista vencido da Taça de Inglaterra por três vezes (1898, 1899, 1903). Foi por cinco vezes o melhor marcador do campeonato inglês (1896, 1897, 1899, 1901, 1904) apenas superado por Jimmy Greaves. Mais bem-sucedida foi a sua carreira internacional: 8 vezes vencedor do British Home Championship e 4 vezes melhor marcador da competição. Pela selecção marcou 28 golos (outras referências apontam 30) em 23 jogos, um recorde até então e números fantasticamente assinaláveis para a época.

Bloomer foi um ícone, qual Beckham ou Cristiano Ronaldo. O seu nome foi associado a roupas, cigarros, fotografias, publicações, calçados, etc. Inclusive teve as suas próprias linhas de produção de chuteiras. As suas chuteiras eram brancas, e festejava os seus golos (aos invés do aperto de mão entre colegas, comum na época). Era acusado de arrogante e de temperamento difícil. Enfim, era uma figura diferente. Por conta do seu registo goleador, Bloomer foi nomeado no "English Football Hall of Fame" e no "Football League 100 Legends", para além de ser o 45º melhor europeu (6º melhor inglês) do século para o IFFHS.

Arte: Mauro Vaz