Futebol nos anos da Guerra. Os Esquadrões mais emblemáticos de uma das Eras mais românticas e dramáticas do futebol. 

Nem só de episódios funestos viveu o futebol nessa etapa. Apesar da não realização de Copas do Mundo em 1942 e 46, foram tempos de esquadrões maravilhosos e de craques estupendos. As inovações táticas ocorriam com alguns centroavantes mais técnicos fazendo a função de falso-9, algumas equipes também utilizavam 3 zagueiros (esquema WM, popularizado após a mudança na regra do impedimento) e linhas de meio-campo ou ataque já faziam intensa movimentação, mais tarde chamado futebol total.


OBS: Não temos por objetivos verdades absolutas, seria muito chato se assim fosse. Afinal, o mais legal do futebol é a sua subjetividade aos olhos dos amantes da bola. Os Esquadrões abaixo estão em ordem cronológica, sem estabelecer um ranking do melhor para o pior sobre os 10 escolhidos nessa representação. É usado o ano inicial do esquadrão como ordem. 


River Plate 1941-1947
Formação Ideal:
Soriano
Yácono - Vaghi - Ferreira
Rodolfi - Ramos
Muñoz - Moreno - Pedernera - Labruna - Loustau

Rompendo com os limites lógicos de tudo que se conhecia de futebol naqueles tempos, uma geração genuína de argentinos estabeleceram um padrão de jogo técnico, categórico e avassalador, que escravizava todos os adversários. Ficariam afamados como La Máquina, no mais aprimorado encaixe de engrenagens, com Yácono, Vaghi, Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna, Loustau & cia. Juntos colocaram em prática tudo aquilo que só se conhecia na teoria ou em imaginação, com os avançados sem posição fixa, tocando os sinos do futebol total ou jogo-imaginação. Seus feitos correram o mundo e ficaram eternizados nas lembranças dos argentinos. Muito se lamenta a falta de Copas do Mundo, os argentinos teriam chances reais de consagração e talvez fossem os afamados pioneiros no chamado futebol arte & ginga - ou na cultura hermana o fútbol del tango. Com a base do River, a seleção porteña arrasou com os rivais sul-americanos, alavancando 4 títulos da Copas América, sendo única a vencer três vezes o torneio consecutivamente. Nessa etapa nostálgica, o River Plate conquistou quatro títulos do Campeonato Argentino (1941, 42, 45 e 1947), três da Copa Internacional Aldao (1941, 45 e 47), entre outros nacionais (Copa Argentina 1941, 41', 42), mas muito além de taças ou resultados, desfilaram nas canchas um jogo magnifico. Ao mesmo tempo que empregava a velocidade, empregava em idêntica dosagem a técnica e deferiam em profusão ataques fulminantes, despejando a pelota nas metas desafiantes. Em sua fase final, a dinastia possuiu também o astro Di Stéfano. Simplesmente uma das equipes mais perfeitas e sedutoras da história do futebol mundial.
Torino 1942-1949
Formação Ideal:
Bacigalupo
Ballarin - Rigamonti - Maroso
Grezar - Castigliano

Menti - Loik - Gabetto - Mazzola - Ossola


 
Em meio ao avanço da Segunda Guerra, a Itália veria nascer um futebol encantador e indomável, forjado por jogadores do próprio país: Il Grande Torino. Sob a presidência de Ferruccio Novo e a batuta de grandes conhecedores do cálcio, como Vitorio Pozzo, pouco a pouco o Torino formaria uma geração genuína, a jogar com tanta beleza e distinção, que seu futebol lembraria figuras renascentistas. Foram alento no pós-guerra, com seu jogo fazendo as pessoas novamente acreditarem na beleza da vida. A Squadra grená de Rigamonti, Maroso, Gabetto, Ossola e sobretudo Valentino Mazzola, conquistou cinco Campeonatos Italianos (1942-43, 1945-46, 1946-47, 1947-48, 1948-49), além de uma Copa Itália (1942-43), trasnformaram a mentalidade do jogo italiano, o antigo metodo virou sistema, aproveitando a organização WM, ao qual poucas equipes conseguiam utilizar da melhor maneira, os touros apaixonaram o mundo da bola.  Obtiveram diversos placares largos, grandes triunfos sobre a Juventus e as outras grandes equipes italianas. Conseguiram o maior número de temporadas (4) e jogos (93 partidas, com 83 vitórias e 10 empates) invictos dentro de seus domínios no período de janeiro de 1943 a abril de 1949. Obtiveram o maior número de vitórias em uma temporada da Liga (29 êxitos), numa etapa que ficaram conhecidos como Invencíveis. A equipe que mais gols marcados (125) e teve a melhor média feita  (3,15). Só poderiam ser parados por um destino cruel, fosse perante o auge do regime de Mussolini ou por uma tragédia (Superga, o acidente aéreo em janeiro de 1949), em tempos aos quais a geração Italiana tinha grandes chances de novamente dominar o futebol mundial (no dia 11 de maio de 1947, a Itália venceu a Hungria com o recorde de 10 jogadores selecionados). Apesar disso, para sempre o Torino dos anos 40 estará eternizado nos corações dos amantes do futebol, pois construíram a mais bela e trágica página do futebol italiano e talvez do mundo.
 São Paulo 1943-1949
Formação Ideal:
Gijo

Piolim - Renganeschi
Ruy - Bauer - Noronha
Luisinho - Antonio Sastre - Leônidas da Silva - Remo - Teixeirinha

Dirigentes discutiam as chances de título paulista e decretavam com deboche que a única chance do São Paulo seria se a moeda caísse em pé.  Se era assim, o clube passou a contratar alguns dos grandes jogadores do futebol mundial, subiu talentos da base e ajustou uma equipe implacável. A moeda ficou de pé já em 1943. Possuindo um trio final solido, o Tricolor adequaria a mais perfeita linha-média do futebol brasileiro com Ruy, Bauer e Noronha, três magos a unir marcação insuportável, técnica refinada e passes precisos, como sustentação coesa ao poderoso ataque vocacionado em gols, que tinha astros de Copa do Mundo e de fama, como o veloz e endiabrado Luisinho, o genial Dom Antonio Sastre, o mágico Diamante Negro Leônidas (em nova posição faria o chamado falso-9, maestro e definidor), o arisco Remo e a imposição ágil de Teixeirinha. O auge da equipe foi entre 1945-46, mas a dinastia continuou até 1949, uma base do Brasil na conquista da Copa América (4 atletas iriam à Copa-50). O Rolo Compressor conquistou cinco Campeonatos Paulistas (1943, 45, 46, 48 e 49) com um futebol lustroso, de média acima de 3 gols/partida, esmagando os rivais paulistas e nacionais (pelas Copas dos Campeões Estaduais de 1943, 45, 46 e 48 ou excursões nacionais) e um dos melhores do mundo, levando vantagem nos confrontos contra o Expresso Vascaíno e superando quadros internacionais. Venceram campeões sul-americanos e europeus como o Arsenal, empatando com os afamados River Plate e Torino. Eram tempos aos quais o Pacaembu teve Reis, com a torcida sem se perguntar de quanto seria o placar, mas sim de quanto seria a goleada.
Vasco da Gama 1945-50
Formação Ideal:
Barbosa
Augusto - Rafagnelli (Wilson)
Ely - Danilo Alvim - Jorge
Chico (Maneca) - Friaça - Ademir de Menezes - Djalma - Ismael

 
Unindo força e técnica em perfeitas proporções, o Vasco encantou o Brasil, a América do Sul e até o Mundo com um Expresso cheio de vitórias. No gol um dos mais perfeitos goleiros da história brasileira (Barbosa), a zaga e a linha média dotavam de força e segurança, com Danilo a destoar seu futebol de príncipe. Já a linha de atacantes exercia talento, plasticidade, fluidez e muitos gols, cotando no período com Maneca, Ismael, Friaça, Lelé, Jair Rosa Pinto, Ipojucan, Chico e o grande Ademir de Menezes. Seu primeiro técnico foi o uruguaio Ondino Viera (um dos pais do 4-2-4), já com Flávio Costa no comando a equipe demonstrou variantes táticas, atordoando os rivais. O Cruz-Maltino aspiraram três Campeonatos Cariocas (1945, 47 e 49) de forma goleadora e invicta, sobrepujou fortes equipes sul-americanas e fizeram o necessário frente ao ainda poderoso River Plate, para torna-se o pioneiro campeão internacional do país ao conquistar o mais importante torneio da época: o Campeonato Sudamericano de 1948. Conseguiu também bons desempenhos frente aos times estrangeiros. Seriam ainda a base da Seleção Brasileira na conquista da Copa América de 1949 e na disputa da Copa do Mundo, que apesar da trágica derrota de 50, apresentou um desempenho formidável. Foi com essa equipe maravilhosa, que a fama vascaína assim se fez.
Sporting Lisboa 1945-49
Formação Ideal:
Azevedo
A. Cardoso - M. Marques
Canário - O. Barbosa - Veríssimo
Correia - Vasques - Peyroteo - Travassos – Albano

 
Com suas propriedades acústicas, na vibração produzida pelo arco nas cordas, o violino torna-se um instrumento único e romantizado, provocando sentimentos apaixonantes nas pessoas. Em Portugal, esse sentimento nos sons foram reproduzidos nos campos de futebol, como uma sinfonia lindíssima feita pelos Leões de Lisboa: seu ataque seria chamado de os cinco Violinos. Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano, foram os cinco ases que revolucionaram a história do Sporting e do futebol português, sendo nomes ainda religiosamente recitados por quem os viu jogar - sportinguistas ou adversários. A equipe maravilhou os espectadores pela arte, graça e entrosamento que empregavam no jogo.
Ao longo de três temporadas permaneceram juntos, perfazendo o Sporting a um Tricampeonato Português (1945, 46 e 47) e uma Taça local (46), na chamada dobradinha. Cada um dos atacantes do quadro alcançou cerca de 100 gols em serviço do Sporting.

 Újpest 1945-47
Formação Ideal:
Toth 

Balogh - Laborcz 
Horvath - Szucs - Nagymarosi 
Egresi - Szusza - Berzi - Zsengellér - Varna

 
Os grandes sucessos do Úpjpest haviam ocorrido nos anos 30, depois o clube teve de reestruturar. O fim da Segunda Guerra Mundial também trouxe o fim do profissionalismo no futebol da Hungria. Renomeado Újpesti TE, o clube voltou a obter grandes sucessos no Campeonato Húngaro, um dos mais fortes da época, conquistando três edições (1945, 1946 e 47), com craques do calibre de Balogh,  S. Bíró, Egresi, Szusza, o genial Zsengellér & outros. Nessa etapa o time também resolveu excursionar e seus desempenhos foram proveitosos, além de popularizaram sua força.
San Lorenzo 1946-47
Formação Ideal:
Blazina

Basso - Vanzini
Zubieta - Grecco - Colombo
Imbellone (Antuña) - A. Farro - R. Pontoni - Martino - Oscar Silva



Com valores na base, o técnico Diego Garcia e seu assistente Pedro Omar não demoraram a subir e lapidar as joias para reforçar o elenco de cima, ajustando uma forte equipe. Subiram o goleiro Blazina, Flaco, Tablada, Luis Mariano, juntando a outros jogadores que já estavam na principal, como o defensor Vanzini. Em 1945, chegaram Armando Farro (ex-Banfield) e René Patoni (ex-Newll’s), mais tarde também se juntaria ao Ciclon o zagueiro Oscar Basso e na pré-temporada 46 o extremo-esquerda Oscar Silva (ex-Racing), a orquestra do San Lorenzo logo estava aprumada. Com técnica requintada, harmonia e muitas bolas nas redes, seriam Campeões Argentinos de 1946. A formação ficaria para sempre no olhar clinico do argentino, fossem torcedores ou não do clube. Em 1947 o clube fez uma famosa excursão pela Península Ibérica (Portugal-Espanha), entre outras, vencendo a Seleção Espanhola por 7x5 e 6x1 e a Portuguesa por 10x4. Tinham a característica constante de troca de passes, jogo tecelagem. A destacar um Trio de Ouro imparável e esmagador, com Faro-Pantoni-Martino.
Partizan Belgrado 1947-50
                Formação possível:
F. Šoštaric

M. Jovanovic - R. Colic
A. Atanackovic - Z. Cajkovski - B. Pálfi
 P. Mihajlovic - S. Bobek - F. Rupnik - V. Firm - M. Valok

Formado e inicialmente administrado pelo grupo de jovens oficiais superiores do Exército Popular Iugoslavo, o Partizan Belgrado logo se tornou uma força no país. Pela gerência de Illés Spitz, poucos anos após o surgimento do clube (fundado em 04 de outubro de 1945), uma linhagem dos melhores atletas do país foram seduzidos a intensificar um esquadrão negro: Šoštarić, Jovanović, Čolić, A. Atanacković, Z. Čajkovski, P. Mihajlović e a lenda Stjepan Bobek levaram o time a três títulos nacionais entre 1947 a 49. Se destacavam pelo jogo coletivo, pelo senso de posicionamento e talento. Nesse ínterim, também fizeram da Jugoslávia uma Seleção fortíssima, alcançando a medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de 1948.
 Malmo 1948-53
Formação possível:
Bergtsson 
Masson - Erik Nillson
Gaert - Hjertsson - Kjeli Rosen
Jonnson - Hyddell (Gustav Nillson) - Ek (Taper) - Palmer - Stallan Nillson.

Muito Além do trio Gre-No-LI  (Gren, Nordahl e Liedholm), existia um grande trabalho de atletas se formando na Suécia, sobretudo na figura do Malmö FF. Seus pilares futebolistas, que fizeram do clube a principal base da Suécia entre 1948 a 1950, quando o país conquistou o Ouro Olímpico/48, foi tricampeã Nórdica e o 3º lugar na Copa do Mundo no Brasil/50 (na edição venceu Itália e Espanha). Entre 06 de maio de 1949 e 1 de Junho de 1951, a equipe manteve-se invicta em 49 jogos, 23 dos quais eram uma série de vitórias ininterrupta. Em um giro pela Europa chegaram a vencer o Milan e o Bologna. Conquistaram quatro Campeonatos Suecos (1944, 49, 50 e 51), além de 3 Copas da Suécia. Os Azuis celestiais, figuras como Erik Nilsson,  Rosén, Ingvar Gärd, Egon Jonsson, Stellan Nilsson e Palmer, regurgitaram feitos para o país, colocando-o no mapa da bola. Para algumas preleções foi a melhor equipe Nórdica da história.
Peñarol 1949-50
Formação Ideal:
Máspoli
Enrique Hugo - Sixto Possamai
J.C. González - Obdulio Varela - W. Ortuño
Ghiggia - Hohberg - Míguez - Schiaffino - Vidal


Não foram tão duradouros, mas a intensidade no curto tempo que estiveram juntos foi das mais mortais da história, tanto que foram alcunhados de  Locomotiva da Morte ou a Máquina Mortal. A linha de frente seria chamada de “ataque da morte”: Ghiggia, Hohberg, Míguez, Schiaffino e Vidal. Na defesa e no meio-campo o vigor físico e a inesgotável disposição foram liderados por Obdulio Varela e Maspoli no gol.  No ano de 1949 venceram o Campeonato Uruguaio com quase 95% dos pontos (18 jogos, 16 vitórias e 2 empates), marcando 62 gols em 18 jogos, quase 3,5 gols por jogo. Além disso obtiveram êxitos na Taça da Competição  e a Taça de Honra, tudo de maneira invicta. Foram três clássicos contra o Nacional e todos triunfantes (2x0, 3x1 e 4x3). Foram conhecidos pelo lado impiedoso que jogavam, sempre humilhando os adversários ao máximo, sem qualquer consideração. Por algum tempo o futebol uruguaio estava diante de uma geração incrível no próprio país, que seria a base uruguaia na Copa do Mundo de 1950, na maior façanha da história celeste e uma das mais emblemáticas do futebol. Eles seriam desfeitos algum tempo depois, muitos iriam atuar na Europa. Até os dias hoje, porém, o próprio clube deixa os feitos dessa equipe expositivos e admirados.

MENÇÕES HONROSAS:

Nacional 1939-43
Slavia Praha 1939-44 (muita dúvida se essa equipe merecia ter ficado entre as apresentadas, os tchecos tinham grandes chances numa possível Copa de 1942)
Palmeiras 1940-1947
Internacional  1940-48
Flamengo 1942-44

Boca Juniors 1943-44
IFK Norrköping 1943-48
Barcelona 1945-49
Sparta Praga 1946-48
Arsenal 1948-50