Ao fim dos anos 30, depois de apenas uma conquista de Copa Itália e atuação coadjuvantes na Liga Italiana, ao mesmo tempo que observou amargamente o maior rival fazer uma hegemonia, o Torino mudaria completamente de patamar com a chegada à presidência de um influente industrial da cidade de Turim, o lendário comendador Ferruccio Novo. Apaixonado torcedor do clube desde a infância, ele não mediu esforços para recolocar (com a ajuda dos elementos Janni, Ellena e Sperone) o clube nos caminhos da eternidade a partir de 1939. Gestor de empresas bem sucedidas, iniciou um modelo de aplicação financeira bem atual, numa cooperação entre a riqueza produzida por suas maquinas e o futebol no time grená. Além da profissionalização, o empresário dará poder capital ao clube na descoberta e produção de craques.
Para isso a delegação de uma comissão no clube será feita com competências especificas, diferente das normas antigas sob atuações em conjunto, agora cada membro terá sua função. Percebendo a enorme capacidade de futebol produzida por húngaros e austríacos em modelos táticos aquele tempo, Ferrucio Novo decide trazer para o clube o húngaro Ernst Egrierbstein, que será muito importante na inicial modelação da equipe. Suas capacidades vão além de conhecedor de futebol (ex-jogador do AK de Budapeste), Egrierbstein era professor de educação física e famoso por sua psicologia em conciliar grupos. Teria forte apoio de toda a camada granata, incluindo o do conselho dos quais estava Vittorio Pozzo, para a contratação e descobertas de jogadores. Assim, um dos primeiros investimentos veio do Verese, por 55 mil liras, era o avançado Franco Ossola. Ele se junta a outros bons nomes da base como o defensor Sergio Piacentini.
Os primeiros resultados foram ruins, sofrendo derrotas para a Ambrosiana (Inter) e o Livorno. Mas a partir do derby, aplicando 5 a 2 na Juventus, o Torino aprumaria jogo atrativo e intenso com outras grandes vitórias, como diante dos fortes correntes Genoa (3x1), Roma (4x0 e 4x0), Fiorentina (5x0 e 3x2), Bologna (2x1 e 2x1), Lazio (3x2) e novamente frente a Juventus por 2 a 0, gols de Piacentini e Ferraris. A corrida foi bastante disputada contra o Livorno. Só havendo definição na ultima rodada, graças ao gol decisivo de Valentino Mazzola, frente ao Bari (1x0). Após 15 anos desde sua ultima conquista, o Torino voltava a sagrava-se Campeão Italiano. Foram 20 vitórias e 4 empates em 30 jogos, com um ponto de frente (44 a 43) do Livorno. Também venceriam a Copa da Itália (um recorde de 5 vitórias em 5 partidas contra o Anconetana, Atalanta, Milão, Roma e Veneza, 20 gols marcados e 0 sofridos).
Durante a segunda Guerra Mundial, na figura do ditador Benito Mussolini, o Reino da Itália desenvolveu um regime autoritário, opressor e ultranacionalista, denominado dentro da ideologia como política fascista. Emergindo com mais força após a primeira Guerra, como uma espécie de reação à Revolução Bolchevique de 1917 e às fortes lutas dos trabalhadores e seus sindicatos, sua expanssão também culminando no biennio rosso, em reação a controvérsia sobre a sociedade liberal-democrática.
Aos poucos o cálcio tenta retornar com alguma dificuldade. Na época 1945-46, o Campeonato Italiano incluía uma fase territorial, devido as obstáculos de logística ainda mais prejudicados na Itália. Na fase de grupo (pela divisão Norte), o Torino triunfou com plena dominância, incluindo goleadas frente ao Genoa (6x0), Milan (4x0), Bologna (4x0) e êxitos importantes ante Juventus (1x0), o Brescia (3x1) e a Internazionale (1x0). A fase seguinte colocou uma disputa frente a Juventus pelo título, após vitorias importantes como nos 3x0 no Milan e 1x0 na Internazionale, na penúltima rodada o Torino bateu o arquirrival por 1x0. Depois arrasaram o Livorno (9x1), enquanto a Juve empatou com o Napoli. Resultados que deram a terceira conquista Italiana da vida do Torino (14 jogos, 11 triunfos e 43 gols marcados, apenas 3 revés), a segunda da Era Novo. Castigliano (com 13 tentos) ainda terminou como artilheiro.
Muito se lamenta inclusive o fato de não ocorrerem Copas do Mundo nesse período, afinal essa incrível geração teria grandes chances de aspirar a façanha. A Seleção Italiana poderia ter contado em um Mundial com um grupo entrosado e incrível. Para noção um amistoso contra a Hungria, vencida por 3 a 2 (11 de maior de 1947), a Seleção da Itália contou com 10 atletas do Torino, apenas o goleiro não era do time.
Aliando um brilhante trabalho em grupo, com velocidade, plasticidade e jogo intenso, o Torino fez o melhor campeonato de sua história em 1947-48, o grande auge da Squadra. Os grenás conseguiram uma incrível marca de pontuação fazendo 65 pontos e 29 vitórias (dois recordes surpreendentes!), em um total de 40 jogos (com vantagem de 16 pontos de frente do Milan, Juventus e Triestina, estabelecendo outra façanha), desse modo quebrando vários recordes na história do Calcio. A caminhada incluiu-se goleadas de 6x0 no Luchesese, 7x1 na Roma (por tempos a maior goleada fora de casa), 7x1 na Salernitana (3 gols de Loik), 5x0 na Inter (show do trio Loik, Mazzola e Gabetto), 5x0 na Fiorentina, 5x1 no Bologna (Gabetto marcou 3x), e a maior diferença já feita em casa por uma equipe italiana: 10 a 0 na Alexandria (Loik marcou 3, Grezar 2x). Ainda ocorreu uma sequencia incrível de 21 jogos sem perder (com 17 vitórias e 4 empates) a partir da 20º rodada, que sobrepôs principalmente o Milan (vice-campeão e derrotado por 2x1 no penúltimo compromisso). Encerrariam com a inigualável contagem histórica no Calcio de 125 gols assinalados e uma média absurda de 3,15 gols/jogo (Mazzola foi vice artilheiro com 25 gols, Gabetto marcou 23).
Algumas mudanças ocorreriam para a temporada seguinte, fazendo notar que o Torino foi uma grande equipe idealizada por vários mentores. Com o encerramento da Guerra, a equipe tem a volta do seu primeiro agregador Erbstein, outro técnico (o inglês Leslie Lievesley) também se juntará ao elenco, mas nada muda o brilho da equipe, ambos convergiam ao mesmo empenho. Dessa vez, contudo, a corrida pelo título seria bastante disputada frente a Internazionale e ao Milan (ao qual o Torino chegou aplicar 4x1, com 2 gols de Ossola), ainda mais intercalando um traumático ocorrido. Após empatar com a Inter, o Torino ficou 4 pontos na frente, e com favoritismo para mais uma taça. Mas nessa etapa o clube afirma um compromisso em Lisboa, contra o Benfica, que mudará para sempre o destino do clube.
Após a partida, a tripulação do Torino decolou às 9h52’ do Aeroporto da Portela, em Lisboa, e fez escala para reabastecimento em Barcelona às 13h15’, retomando percurso as 14h50’, como previsto. Ao aproximar-se do espaço aéreo italiano a delegação recebe a noticia de um forte mau tempo, que parecia dar o prenuncio da desastre: os céus choravam e o vento ecoava gritos de temor...
A chuva forte e o tempo nublado acompanhava o Avião (Fiat G.212, o trimotor I-Elce). Após um ultimo contanto com a estação de rádio, quando buscavam aterrar na pista do aeroporto em Turim, os pilotos perderam a vista e o controle da aeronave, o avião direcionou-se pelas nuvens baixas ao ponto de esmaga-se frente a colina da Superga na traseira da Basílica, envolto de uma névoa espessa. O impacto foi impetuoso ao ponto de não restar nenhum sobreviventes. Morreram 31 pessoas, dos quais 18 eram jogadores do Torino: Mazzola, Rigamonti, Grava, Loik, Baciglupo, Ballarin I, Ballarin II, Fadini, Castigliano, Gabetto, Bongiorni, Gezar, Maroso, Martelli, Menti, Ossola, Operto e Supert. Além de 2 Treinadores (EgriErbstein e Lievesley), 2 dirigentes (Agnisetta e Civalleri), um massagista (Ottavio Cortina), 3 executivos Arnaldo Agnisetta, Bonaiuti e Andrea Ippolito Civalleri e três dos melhores jornalistas esportivos italianos: Renato Casalbore (fundador do Tuttosport), Renato Tosatti (Gazzetta del Popolo) e Luigi Cavallero (La Stampa). Entre outros membros da tripulação. A trajetória majestosa do Grande Torino foi assim interrompida tragicamente naquele 4 de maio de 1949, às 17h05, em um dos momentos mais tristes – se não o mais – que vivenciou o futebol. Coube a Vittorio Pozzo missão mais ingrata, em meio a dor, reconhecer os corpos dos seus garotos. Aquele grande Torino morria deixando um misto de desespero e comoção por toda a Itália e Europa.
"Os heróis são sempre imortais aos olhos daqueles que acreditam neles.
E assim as crianças acreditarão que Turim não está morto: apenas fora de casa".
OBS: nas temporadas 1943-44 e 44-45 não houve campeonato devido a eclosão da Guerra.
Copa Itália 1942-43.
OS FEITOS HISTÓRICOS & LEGADO
- Foram alento no pós-guerra, com seu jogo magnifico fizeram as pessoas novamente acreditar na beleza da vida.
- Conseguiram o maior número de temporadas (4) e jogos (93 partidas, com 83 vitórias e 10 empates) invictos dentro de seus domínios no período de janeiro de 1943 a abril de 1949.
- Detiveram o recorde de jogadores na Seleção Italiana com 10 atletas, apenas o goleiro não era do clube (no dia 11 de maio de 1947, Itália 3x2 Hungria).
- Alcançaram o maior número de pontos em um campeonato no antigo sistema (foram 65 pontos, quando a vitória valia 2 pontos).
- Obtiveram o maior número de vitórias em uma temporada da Liga (29 êxitos), numa etapa que ficaram conhecidos como Invencíveis. Sendo ultrapassados somente pela Inter em 2007 com 30 vitórias.
- Conquistaram uma Copa da Itália com recorde de 5 vitórias em 5 partidas marcando 20 gols marcados sem sofrer nenhum.
- Fizeram a maior diferença de pontos para o segundo colocado (16).
- A equipe que mais gols marcados (125) e teve a melhor média feita (3,15).
- Aplicaram a maior goleada em casa (10 a 0 no Alexandria) e maior goleada fora (7 a 0 na Roma).
- Em cinco campeonatos vencidos a equipe assinalou 408 gols (sendo 97 do capitão Valentino Mazzola).