Gabriel Batistuta, ocupa o imaginário da história do futebol como um atacante de rara precisão. Hábil, decisivo, um exímio cabeceador. Além de suas características em campo, era icônico, midiático, talvez por seus cabelos esvoaçantes, tipicamente desgrenhados, o que também o remete um símbolo da juventude argentina, mais rockeira e politizada do que a brasileira, talvez por como representou a Fiorentina em seu período mais emblemático, em que o nostálgico logo da Nintendo, estampava a camiseta, que transcendeu o uso esportivo e também é lembrada como acessório de moda, uma peça indispensável na coleção de qualquer aficionado por camisas de futebol.

O seu início no esporte bretão foi tardio, porém meteórico: vindo de outra modalidade, o basket, onde a Argentina também tem tradição, o jovem pode até ter começado tarde a praticar futebol, porém, sua estreia como profissional ocorreu antes mesmo de outros jogadores que já praticavam desde a mais tenra idade. O fato é que Gabriel deixou o basketball aos dezessete anos, visando que por sua altura, 1.85 m, não iria ter grande sucesso naquela modalidade, também praticara vôlei antes, e o futebol não era de suas primeiras opções, até a Argentina ter se sagrado campeã mundial em 1986, o que motivou e muito o jovem Gabriel a se empenhar. Disputou pequenos torneios por clubes de bairro, onde mesmo grandalhão e desajeitado para o novo esporte, chutava mais forte do que os seus adversários. Nesse início, era considerado um pouco acima do peso, mas adaptou-se e migrou sucessivamente, sendo absorvido pelo Newell's Old Boys (!!!) e em tempo recorde, após se destacar defendendo o selecionado de jovens de sua localidade. No Newell's o técnico Marcelo Bielsa, considerou aquele novato muito talentoso, um substituto ideal para Abel Balbo, que havia sido recentemente vendido ao River Plate.


O ano era 1988, temporada 87-88 do campeonato argentino, e já no seu debut, aos dezenove anos, em 29 jogos oficiais o atacante marca 11 vezes. E se destaca não apenas numericamente, impressiona por sua desenvoltura e porte. Não chegaria a fazer o trigésimo jogo oficial pelo Newell's. Mesmo assim, naquele ano mítico já se consagraria como campeão argentino e vice-campeão da Libertadores da América. Marcelo Bielsa foi fundamental para o desenvolvimento físico e cognitivo do atleta, cuidando dos mínimos detalhes para que sua joia pudesse luzir ainda mais. Gabriel que chegou ao clube apelidado de "El Gordo", emagreceu rapidamente, e já seria notado por sua boa forma física e disposição em campo.

CONQUISTANDO BUENOS AIRES

O time do River foi o grande felizardo pela contratação de Batistuta na temporada de 1989. O craque mais uma vez demonstra sua impetuosidade, marcando um gol decisivo em sua primeira partida pelo River, na Liguilla pre-Libertadores, que daria vaga ao campeão do torneio na competição continental. Tudo parecia um roteiro pronto, para que mais um astro argentino brilhasse e muito, mas não foi bem assim que as coisas ocorreram. Daniel Passarella, é marcado na carreira de Batistuta como um misto de mentor e rival, e não foram poucos os embates entre os dois ao longo de suas carreiras. Nesse primeiro, o técnico tratou de lançar ao banco e subestimar o craque, que não teve uma adaptação de muita regularidade no River, embora, em 25 jogos oficiais, tenha anotado 9 gols. Ao final da temporada, um desanimado Batistuta não negou o convite de um novo clube, logo o grande rival, o Boca Juniors. Mesmo sendo reserva, Gabriel foi mais uma vez campeão argentino pelo River em 89.


No ano de 1990, o campeonato argentino passaria por uma reestruturação. Agora o campeão seria definido entre o embate dos vencedores de duas modalidades, Apertura e Clausura. O time do Boca não realizou um bom início de temporada, inclusive, o que ocasionou a demissão de seu técnico, Carlos Aimar, e com a chegada de um novo mentor, o uruguaio Óscar Tábares, as coisas melhoraram muito na Clausura, onde, Batistuta parecia finalmente ter recuperado seu prazer em jogar futebol, e entre os gols que marcou no Clausura 90-91 destacam-se os dois gols sobre seu antigo clube, o River, numa vitória por exatos 2 x 0. Se arrependimento matasse...

O ano de 1991, foi mágico, Batistuta foi importante em vários momentos na Copa Libertadores, que ficaram marcados negativamente para nós brasileiros, pelo craque ter sido decisivo na eliminação de dois gigantes, o Corinthians nas oitavas, onde Batistuta marcou dois gols na vitória por 3 x 1 do primeiro jogo, e o Flamengo nas quartas, onde ele marcou dois gols, um em cada jogo, ambos de penal. O time foi eliminado nas semifinais pelo campeão daquele ano, o Colo-Colo, num jogo que ficou marcado na história como "A Batalha de Santiago". Um daqueles jogos onde o espírito latino se fez presente, catimba, tapas e tudo o que rege o script.

A final do campeonato argentino de 1991 se daria entre os campeões de Apertura e Clausura e colocaria o craque em mais um jogo decisivo contra um ex-clube, dessa vez o seu primeiro, o Newell's, porém, a convocação do craque para a Copa América, impediu essa final que poderia ter mais algum sabor de doce vingança para Batistuta. Aliás, atingindo projeção internacional, os ares já eram outros, e clubes do mundo todo, a essa altura, já faziam propostas ao Boca.

UM CASO DE AMOR


A Argentina se sagrou campeã da Copa América de 1991, com seis gols de Batistuta, que só melhorava tecnicamente cada vez mais e mais, lembrando que ainda não eram muitos anos desde que o craque começou a levar futebol a sério. O clube italiano da Fiorentina conseguiu a contratação junto ao Boca para a disputa da Serie A no mesmo ano de 1991. Ali começaria uma parceira algo mágica entre o clube e seu maior ídolo. Em sua primeira temporada, excelente adaptação e 13 gols marcados.

No ano de 1992, mesmo com 16 gols marcados, Batistuta não conseguiu impedir sua equipe de ser rebaixada no Calcio, o que rendeu alguns comentários sobre uma possível saída do clube. Comentários esses que se intensificaram após a conquista de uma Copa das Confederações em 1992, obviamente pela seleção argentina e mais uma Copa América em 1993, com direito aos dois gols da final, logo um ano antes da Copa do Mundo, onde o craque já era citado como nome certo. Propostas de Real Madrid e diversos clubes do alto escalão vieram, mas Gabriel se comprometeu com o clube, e com mais 16 gols, na Serie B de 1993-1994, ajudou seu time a conquistar o acesso para a Serie A, a essa altura, já era um herói em Florença.

COPAS DO MUNDO

A Argentina de 1994 era um time brilhantíssimo no papel, Caniggia, Redondo, a última Copa de Maradona, (esse um caso à parte- eliminado da Copa por dopping)... Porém esse time não se alinhava na prática e precisou ir disputar sua vaga na repescagem contra a Austrália, onde um gol feito exatamente por Batistuta, mas por sorte que por eficiência, classificou sua equipe para o Mundial. Muito se diz que a eliminação de Maradona mexeu com a moral daquele time, o que pode ser verdade, pois o time caiu nas oitavas, para uma habilidosa Romênia.


De volta à Itália, o que for dito é história, jamais a Fiorentina viu tanto talento em forma de gol, na temporada de 94-95, o argentino bateu seu recorde pessoal, marcando 26 gols. Em 95-96 conquistou seu primeiro título com a equipe de Florença, a Copa da Itália. E mais uma vez ressaltando, não importa de onde viessem as propostas, Batistuta as rejeitava, reafirmando seu amor por aquela cidade e por aquele clube.

A temporada de 95-96 seria ainda coroada com o troféu da Supercopa da Itália, sobre o Milan, um fato que era muito expressivo para um time que havia sido rebaixado apenas alguns anos antes. No final daquele ano o craque ganharia uma estátua em Florença.

Em 96-97, era inegável que Batigol era o grande responsável por elevar a Fiorentina de patamar. O time chegou às semifinais da Recopa UEFA e caiu para o Barcelona, campeão do torneio, muito pelo motivo de um cartão amarelo que acionaria a suspenção automática do principal jogador do Fiorentina.

A temporada 97-98, seria marcada pela chegada de dois grandes craques em Florença, os brasileiros Edmundo e Oliveira, o segundo, naturalizado belga. O argentino vinha era sempre citado como um dos maiores jogadores do mundo, as ofertas talvez já nem chegassem tanto à Fiorentina, pois era sabido que eles às negaria.

Aquele ano de véspera de Copa do Mundo, traria mais um embate com seu antigo técnico e rival Daniel Passarella. O comandante argentino, instituiu uma regra que para se juntar a seleção, era necessário cortar o cabelo, que para os argentinos era um símbolo de juventude e rebeldia. Essa moda de cabelos mais curtos, inclusive imposta como regra foi vigente em alguns times nessa época, inclusive o Brasil, que apresentou seus jogadores com penteados quase rapados para o mundial de 98. Batistuta ficou fora de muitos jogos de sua seleção por se opor a tal regra, porém, perto do mundial, abriu mão de sua vaidade, para se juntar ao time, e iria para a sua segunda Copa do Mundo.


Na Copa de 98 a Argentina cairia para uma brilhante seleção da Holanda nas quartas de final, mas Batistuta conseguiu ser um dos protagonistas daquele mundial, marcando inclusive um hat-trick contra a seleção da Jamaica.

O ADEUS A FIORENTINA

Na temporada após a Copa do Mundo, Gabriel fora vítima de muitas entradas desleais de seus adversários e começaram seus problemas com lesões e uma rotina de tratamentos e infiltrações no joelho que o deixaram de foram por alguns meses da temporada de 98-99. Mas sua recuperação foi implacável, com o craque terminando aquele Calcio com 21 gols marcados, vice artilheiro da competição.

A temporada 99-00 seria a sua última pela Fiorentina, porém, não seria qualquer temporada, Batistuta foi considerado o terceiro melhor jogador do mundo aquele ano, atrás de Rivaldo e Beckham, bons tempos não é mesmo? Seu time se sustentou por algumas temporadas na liderança e chegou a dar a impressão de que ganharia o campeonato, mas perdeu força na etapa final da competição. Mas sua pontuação no campeonato ainda classificaria o time para a maior competição continental em 2000, que seria também a derradeira de Batistuta pelo seu amado time.

Ao final da temporada de 2000, já considerado veterano, Batistuta com 23 gols no Calcio, era mais uma vez vice artilheiro, e talvez motivado por finalmente levantar um caneco italiano ou continental, decidiu finalmente trocar de equipe, indo para a Roma.
 

ÚLTIMOS E GLORIOSOS MOMENTOS DA CARREIRA

No ano anterior, a grande rival da Roma, o Lazio, havia igualado o time em scudetos, com duas conquistas. vale ressaltar que a Roma não vencia o campeonato italiano há exatos 18 anos! Tudo isso fazia daquele ano e daquela transferência algo mítico. E como num filme, mas na vida real, não poderia ser melhor, Batistuta com 20 gols, foi o principal jogador na conquista do Calcio, seu primeiro e único campeonato italiano.

Não deve ter sido um dia fácil para o jogador quando sua atual equipe defrontou a Fiorentina, o craque chorou após marcar contra sua antiga equipe, que ainda encontraria novamente, na final da Supercopa da Itália, vencida por 3 x 0 pelo Roma.

A temporada 01-02, foi emocionante para a Roma, que por apenas um ponto não conquistou o bicampeoanto italiano, que ficou com a Juventus, porém, era notório que a integridade física de Batistuta era cada vez mais afetada pelo excesso de tratamentos que fazia para permanecer em campo. Foi uma temporada atípica, onde o craque marcou apenas seis gols.

Na Copa de 2002, a Argentina cairia na primeira fase, teve o azar de se classificar para o chamado grupo da morte, com Suécia, Inglaterra e Nigéria. A última partida da fase de grupos, contra a Suécia, encerraria também sua brilhante carreira pela seleção argentina, com exatos 56 gols em 78 jogos, à época ele era o maior artilheiro da seleção de seu país, recentemente ultrapassado por Lionel Messi.

Na volta ao campeonato italiano, ele mudaria de time pela última vez no país, vestindo a camisa da Inter, por fez apenas 2 gols em 12 jogos. O último clube de sua carreira foi o Al-Arabi, onde jogou entre 2003 e 2005, ganhando um excelente salário e ajudando seu time a se sagrar campeão nacional em 2004.
 

               FICHA COMPLETA:

Nome: Gabriel Omar Batistuta

Nascimento: 1º de fevereiro de 1969, Reconquista, Santa Fe, Argentina

Posição: Atacante.

Clubes: Newell's Old Boys (1988-1989), River Plate (1989-1990), Boca Junior (1990-1991), Fiorentina (1991-2000), Roma (2000-2002), Inter de Milão (2002-2003), Al-Arabi Doha (2003-2005)

Principais Títulos: Campeonato Argentino pelo Newell's (87-88), 1 Campeonato Argentino pelo River (88-89), 1 copa da Itália pela Fiorentina (95-96), 1 Campeonato Italiano da Serie B (93-94) pela Fiorentina, 1 Campeonato Italiano (2000-2001) e 1 Supercopa da Itália (2001) pela Roma. 1 Campeonato Catari (2004) pelo Al-Arabi.
2 Copas América (
91 e 93) e uma Copa das COnfederações (92) pela Argentina.

Prêmios Individuais: Artilheiro do Campeonato Italiano (94-95) pela Fiorentina com 26 gols. Terceiro Melhor Jogador do Mundo da FIFA (1999). Inclusão no Hall da Fama do FIFA 100 (2004)