A década de 20 ficou conhecido como os “Anos Loucos”. Isso porque novos costumes, formas de culturas e artes resgatavam o sentimento mais liberal e permissível, numa sentida mudança de valores. As mulheres ganhavam destaque pelas vestimentas charmosas e mais ousadas, na música vivia-se a Era do som Jazz-Band e a sociedade em geral que já frequentava teatro e óperas, passou a conhecer os cinematógrafos. Foi uma era de muitas prosperidades e avanços, com a modernização das fábricas, das inovações tecnológicas, da eletricidade, do rádio e do cinema falado, principalmente nos Estados Unidos. Os preconceitos eram singelamente retraídos, com as pessoas se permitindo mais. Não muito diferente foi o futebol, que passava a sair do pragmatismo inglês e começava a conhecer um lado mais baseado na habilidade e jogo individual.

Surgiam os maestros escoceses, verdadeiro afronto ao jogo inglês, provocando intensa rivalidade nas Ilhas. Na Europa a chama se acendia pelo brilho técnico e maleável dos tchecos e húngaros, nasceria a brilhante escola de Danúbio. Enquanto na América do Sul o jogo dosava aspectos físicos e também cheios de artifícios mais próprios dos craques, sobretudo pelos uruguaios, que dominariam o futebol mundial. Com o desenvolvimento do futebol por todo o mundo e as derrotas da Grã-Bretanha nas Olimpíadas, podemos dizer que nessa época a Pirâmide dos criadores do football começava a se inclinar...


Vamos então para a equipe, uma homenagem com os possíveis jogadores mais emblemáticos entre 1920 a 1930. A organização tática escolhida é a padrão na época (2-3-5). Confira:


O arqueiro escolhido para a meta foi Zamora. Suas virtudes eram tantas, que ficaria conhecido como El Divino ou Mago do Gol, pelos seus milagres entre os postes. Foi um dos melhores goleiros da história do futebol e o maior da Espanha. A indumentária era parte de sua personalidade forte,  sempre com uma camisa de lã com gola olímpica e uma boina, que contrastavam com seus reflexos incríveis, frieza e rapidez nas ações. Para muitos rivalizou com Yashin a qualidade de melhor goleiro da história. Ajudou no desenvolvimento do futebol espanhol e foi um dos grandes símbolos do Real Madrid, além de destaque no Barcelona e no Espanyol.

Na zaga, começamos pelo versátil e qualitativo Virginio Rosetta. Se destacava tanto nas laterais como na zaga, apresentando a mesma segurança, boa técnica e elegância. Revelado no Pro Vercelli vencendo duas vezes o Calcio, sua carreira ganhou mais fama quando virou uma bandeira da Juventus, ganhando outras seis vezes o Italiano, nesse período sendo chamado para a Seleção Italiana nos jogos Olímpicos de 1920, 24 e 1928. Seria também um dos campeões do Mundo em 1934. Era um defensor dotava de uma habilidade de organização rara para a época, fazendo a leitura do jogo e antecipando os atacantes. Seus botes eram precisos e era capaz de chutes poderosíssimos de longa distância.  Para se falar do outro membro dessa defesa intransponível, é preciso reverenciamos, pois se trata do grande Marechal Uruguaio,  José Nasazzi.  Para alguns pesquisadores, foi o maior jogador da história uruguaia, sendo um dos maiores capitães de uma seleção nacional. Sua garra, inata disposição e força eram impressionantes, podendo tanto atuar na zaga, como nas laterais e a frente do campo. Unia a isso individualidades soberbas, capaz de desafazer dos atacantes e transformar a defesa em um ferrolho sem chaves.

O meio de campo é reforçado por intensa marcação, qualidade e acionamento ofensivo. Pelo lado direito, José Leandro Andrade, a Maravilha Negra do Uruguai. Dono de um preparo físico impressionante, com movimentação frenética na defesa ou chegando a frente, era um médio preciso nos desarmes ao deslizar carrinhos em forma de uma tesoura. Ao tomar o couro, jogava de cabeça erguida e com elegância, distribuía com maestria os passes ou lançamentos. Surgiu no Bella Vista e conseguiu ser ídolo nos dois grandes rivais gigantes do país, Nacional e Peñarol. Foi o grande protagonista da linha média na Celeste Olímpica, ajudando o Uruguai a conquistar duas Medalhas Olímpicas, três Copas América e a primeira Copa do Mundo. Mais ao centro optamos por Milutin Ivkovic, um defensor virtuoso que funcionava como zonal para a zaga. Se destacou sobretudo pela liderança, com voz e presença notável, sendo incansável para os objetivos de suas equipes. Nas Olimpíadas de 28 atuou mais como zagueiro, mas também sabia fazer o meio, como na Copa de 1930. Ídolo do SK Jugoslavija, também seria figura marcante do  BASK Belgrad. Seu legado extracampo também foi memorável, mas lhe custando a vida. Era um ativista, que acabou perseguido, prezo e morto pela Alemanha Nazista. Para fecharmos essa trinca média, um dos astros do Sparta de Ferro, František Kolenatý. Habitual pela direita, também fazia o centro e a esquerda na linha mediana do campo, sempre com muita qualidade técnica e Inteligência. Representava a chamada classe europeia, com suas jogadas e entendimento coletivo.

A linha ofensiva dessa década oferece tudo: qualidade técnica, genialidade e poder de gols. A iniciar por um dos jogadores mais completos e talvez o mais versátil ou curinga da história, György Orth. Chegou a jogar na zaga, no meio, se destacou como centroavante e também atuou de ponta – posição ao qual escolhemos para nossa adaptação de equipe. Tendo como mestre o brilhante Hogan no esquadrão do MTK Budapeste, o avançado Orth adquiriu uma inteligência de jogo tocante, podendo defender, criar ou atacar e tudo isso com imensa propriedade.

Como Inside Forward direito, temos Hector Scarone, um dos melhores jogadores uruguaios de sempre e um dos melhores do mundo em sua época. Difícil para-lo, era um gênio de muita habilidade e velocidade, que entrava por dentro da defesa, com enorme capacidade de gols, fosse pelo Nacional (seu principal clube) ou na Celeste Olímpica. Foi oito vezes campeão uruguaio e pela Seleção alcançou três vezes a Copa América, participou das conquistas nas Olimpíadas e da Copa do Mundo, como um protagonista.

 
A escolha por um Centroavante foi das mais difíceis. A época oferece muitos nomes importantes (McGrory, Petrone, Dean), mas decidimos pela técnica, sem perder a capacidade de gols, então escolhemos a lenda Arthur Friedenreich. Seu auge havia começado antes mesmo da conquista do Sul-Americano/1919, sendo continuado pelos anos 20, ganhando notoriedade pela excursão do Paulistano à Europa, com grandes desempenhos sendo considerado um “Roi du Football”. Fried foi a primeira joia que define a essência do jogo brasileiro, uma gênese da construção técnica e cultural do jogador brazuca. Esbanjava uma técnica inefável para a época, quebrando os preceitos ingleses, suas fintas deixavam os adversários atordoados. Seus arremates de efeito eram quase sempre indefensáveis.

Na esquerda interno, temos o argentino Manuel Seoane. Não era um velocista, mas sua antecipação nas jogadas fazia com que sempre estivesse a frente dos marcadores, algo que lhe possibilitava muitos gols. Sua estética também lhe permitia passes certeiros, naquela máxima de quem deve correr é a bola. Ídolo gigante do Independiente-ARG, também foi autoridade na Seleção Argentina, vencendo três Copas Américas, tendo sido escolhido pela imprensa como o melhor jogador de duas dessas edições continentais.

Na ponta-esquerda (winger ou Outside Left), temos um dos chamados mestres escoceses, Alan Morton. Dado o nível individual que adquiriu o futebol na Escócia (Wembley Wizard), um dos maiores representantes foi o baixinho endiabrado Alan Morton. Era um verdadeiro demônio do drible, sendo um talento de equilíbrio entre velocidade e raciocínio rápido. Conhecido na época como The Wee Society Man, tornou-se lema para sua equipe, o Rangers. A estatura minúscula era compensada pela astuta rapidez e esperteza. Foi solene na goleada escocesa frente aos ingleses (5x1), deixando os inventores desorientados.

FORMAÇÃO DOS SONHOS (Suplentes) II:

Tesoriere (Argentina) / Heinrich Stuhlfauth (Alemanha)
Károly Fogl (Hungria)
Caligaris (Itália)
Pešek Kada  (
Tchecoslováquia)
Luis Monti (Itália)
Álvaro Gestido  (Uruguay)
Férénc Hirzer (Hungria)
Cea 
(Uruguay)
Dixie Dean (Inglaterra)
Baloncieri 
(Itália)
Orsi (Argentina/Itália)

TÉCNICOS MAIS EMBLEMÁTICOS DA ÉPOCA: 
 

Jimmy Hogan, foi uma figura das mais míticas do futebol. Com suas inovações o jogo passou a quebrar com o estílo mais robusto e físico dos ingleses. Seria através desse britânico que nasceria a escola de Danúbio, basilares do futebol moderno, influenciando o futebol de forma mais técnica pela Áustria, Hungria e Tchecoslováquia. Foi o treinador de algumas das grandes equipes da história, como o MTK Budapeste e o Austria Vienna.

Herbert Chapman, um revolucionário inglês e influenciador nato. Com suas ideias nasceria o famoso esquema WM (marcação homem x homem), proveito das novas regras de impedimento. Mas seus trabalhos ganharam destaque ainda mais cedo, em relevância aos desempenhos do Huddersfield Town. Foi um especialista na formação de elenco, na descoberta e desenvolvimento de grandes jogadores. Chegaria ao Arsenal em 1925, mudando completamente o patamar do clube londrino e do jogo no mundo.