Zenon pelo Bugre e Dicá pela Macaca, marcaram época em seus clubes e também disfrutaram de uma rivalidade que é uma das mais bonitas e condecoradas no futebol brasileiro. Nunca dois jogadores tupiniquins tiveram uma história que os associasse tanto, ao lembrar de um, quase automático o outro nos vem a mente! Tanto que o debate sobre os times quase fica em segundo plano, não estamos falando de Guarani contra Preta, ou mesmo de um contra o outro, estamos falando de Zenon & Dicá.
Em 3 de junho de 1979, os dois times faziam o jogo que é até hoje o único dérbi fora de da cidade de Campinas, o Guarani, que era o atual campeão brasileiro, venceu o jogo por 2 x 0.
DICÁ - O MESTRE ALVINEGRO CAMPINEIRO
Oscar Sales Bueno Filho, para a eternidade do futebol, DIcá, é natural da cidade de Campinas, nascido em 1947, é 7 anos mais velho do que Zenon. Começou seus primeiros passos no time alvinegro da cidade, a Ponte Preta, em 1966, time do qual é o maior artilheiro, com 154 gols em jogos oficiais.
Os primeiros anos de Dicá na Ponte, foram disputando a divisão de acesso do futebol paulista, onde desde seus primeiros jogos, já era notado por outros clubes. O time da Ponte se reforçava, liderados por um jovem e cerebral Dicá, o título da divisão de acesso do campeonato paulista, veio em 1969, seguido de um surpreendente vice-campeonato paulista, da divisão principal em 1970. Durante a campanha, o time chegou a superar os tricampeões do Santos de Pelé em plena Vila Belmiro.
Aliás, o Santos de Pelé, seria o novo time da sensação Dicá, que chegou a ficar separado do elenco durante a Taça de Prata de 1970, dado o assédio de grandes clubes, como o Corinthians. Porém, a Ponte cedeu o jogador por empréstimo, e lá, cercado de feras que já jogavam juntos por longo tempo, ao lado de ninguém menos do que o próprio rei do futebol, o jogador acabou não se firmando como titular, e o Santos não deu seguimento na compra do jogador.
Voltando à Ponte em 1972, a onda de propostas continuou, e o jogador acabou saindo no segundo semestre, dessa vez para a Lusa, porém, mais uma vez no time da Portuguesa, não teve muito espaço, por puro preciosismo do técnico Oto Glória, que considerava o jogador muito técnico e pouco tático, fosse o que quer que isso queira dizer, o jogador na época era conhecido por seus companheiros e adversários, pela sua precisão nos passes e cobranças, chegando a treinar com argolas no ângulo do gol, servido de alvos, para seus chutes das mais variadas distâncias.
Pela Lusa, Dicá, conquistou seu único titulo na carreira, em 1973, o título paulista que fora dividido com o Santos, ficou no time até 1976, quando voltou definitivamente à Ponte, obteve algum destaque quando a partir do fim 1974 começou a deixar a reserva para figurar no elenco principal, e foi decisivo no vice-campeonato da Lusa em 1975, onde cavou a expulsão na final de Muricy Ramalho, deixando o time com um a menos e levando a partida para os penais. Porém seu pênalti foi não convertido por ficar na mão de outro gênio, o goleiro Waldir Peres.
ZENON - O MEIO CAMPISTA DE ELITE BUGRINO
Zenon de Souza Farias, nascido em Santa Catarina, no ano de 1954, Zenon ingressou no futebol profissional pelo time do Avaí em 1973, antes já havia jogado no time do Hercílio Luz, clube da cidade natal de Zenon, o município de Tubarão, e pelo próprio Avaí, nas categorias de base em 1972.
Começou já na posição de meia armador, e chamava a atenção geral pela qualidade de seus passes e sua movimentação no meio campo. Ganhou dois campeonatos catarinenses pelo Avaí, em 1973, ano de sua estreia, e 1975, quando sendo destaque do time, também era observado por muitas equipes no país, mas acabou saindo para o Bugre campineiro. Chegou ao Guarani em 1976, e por lá seria o craque de uma geração que contava com craques como Careca, Capitão, Bozó e Neneca.
1976 – CHEGADA DE ZENON, VOLTA DE DICÁ E O INÍCIO DOS ANOS DOURADOS DO FUTEBOL DE CAMPINAS
Com a chegada de um craque no Bugre, e a volta de outro na Ponte, começava assim, o melhor período da história para os dois clubes. O time da Ponte Preta conquistou três vice-campeonatos paulistas na era Dicá, 1977, 1979 e 1981. O time tinha grandes nomes como Jair Picerni e o zagueiro Oscar, que ganhou o prêmio Bola de Prata da revista Placar em 1977.
Em 1977, a Ponte, graças a um belíssimo gol de falta marcado por Dicá, conseguiu adiar para a terceira partida na final do paulistão, o aguardado título do Corinthians, que tiraria o time de uma longa fila de 23 anos sem títulos. A Ponte Preta realmente era alçada à um novo nível no futebol nacional, e trazia o nome da cidade de Campinas ao primeiro nível do futebol.
Se por um lado, a Ponte desafiava os grandes no campeonato paulista, o ano de 1978 seria mítico, o poderoso esquadrão montado pelo Guarani, seria o primeiro time do interior do estado a conquistar o Campeonato Brasileiro!! Sim, o campeonato principal da primeira divisão nacional! O time que contava com Careca, Neneca, Bozó, Zenon e Capitão, atingiu um feito sem proporções, sendo até hoje uma referência de sucesso.
Os jogos entre os dois times agitavam a cidade paulista, era recorde de público e muitas vezes levavam os meios de comunicação da época à preterir clássicos dos times da capital para poder cobrir o dérbi do interior.
Embora o time do Guarani tenha alçado um voo de proporções muito maiores, o time da Ponte Preta, curiosamente assustava mais no estadual, indo às finais, e sendo sinônimo de jogo difícil para os times da capital.
Zenon ficou no Guarani ate o ano de 1980, quando saiu para uma rápida passagem pelo time do Al-Ahly da Arábia Saudita, onde ficou apenas um ano, e voltou para jogar por cinco anos no Corinthians, integrando outro time do qual também é uma das referências, a Democracia Corinthiana.
Já seu “arquirrival” Dicá, permanecera na Ponte até 1986, subvertendo ano após ano, jogo após jogo, as críticas por sua idade, impressionando por seu rendimento mesmo veterano! Cabe aqui contar um feito curioso, em um dérbi disputado em 1983, o jogo estava empatado em 0 x 0, o Guarani comete uma falta e Dicá vai para a cobrança e acerta o ângulo, porém, notando irregularidade na cobrança, o juiz manda o cobrador bater a falta novamente, contrariando qualquer previsão, Dicá parte para a segunda cobrança e.... Gol!! Por essas e outras os nomes desses craques vão ficar eternizados na história dos clubes de Campinas, na melhor geração do futebol do interior paulista.
FICHA COMPLETA DO DÉRBI CAMPINEIRO NO PERÍODO DOS DOIS CRAQUES (1976 - 1980)
07/03/1976 - M. Lucarelli - AAPP 2 X 1 GUARANI - Campeonato Paulista
22/08/1976 - Brinco de Ouro - GUARANI 0 X 0 AAPP - Campeonato Paulista
03/10/1976 - Brinco de Ouro - GUARANI 0 X 0 AAPP - Campeonato Brasileiro
27/02/1977 - M. Lucarelli - AAPP 3 X 1 GUARANI - Campeonato Paulista
07/08/1977 - Brinco de Ouro - GUARANI 0 X 0 AAPP - Campeonato Paulista
04/09/1977 - Brinco de Ouro - GUARANI 0 X 2 AAPP - Campeonato Paulista
20/11/1977 - Brinco de Ouro - GUARANI 0 X 1 AAPP - Campeonato Brasileiro
23/04/1978 - Brinco de Ouro - GUARANI 2 X 1 AAPP - Campeonato Brasileiro
05/11/1978 - M. Lucarelli - AAPP 0 X 0 GUARANI - Campeonato Paulista
03/12/1978 - Brinco de Ouro - GUARANI 1 X 1 AAPP - Campeonato Paulista
03/06/1979 - Pacaembu - GUARANI 2 X 0 AAPP - Campeonato Paulista 1978
27/06/1979 - M. Lucarelli - AAPP 1 X 1 GUARANI - Campeonato Paulista 1978
19/08/1979 - M. Lucarelli - AAPP 1 X 0 GUARANI - Campeonato Paulista
21/10/1979 - Brinco de Ouro - GUARANI 1 X 1 AAPP - Campeonato Paulista
27/01/1980 - M. Lucarelli - AAPP 2 X 1 GUARANI - Campeonato Paulista 1979
30/01/1980 - Brinco de Ouro - GUARANI 0 X 1 AAPP - Campeonato Paulista 1979
20/07/1980 - M. Lucarelli - AAPP 3 X 0 GUARANI - Campeonato Paulista
05/10/1980 - Brinco de Ouro - GUARANI 0 X 0 AAPP - Campeonato Paulista