Promovendo garotos ao time principal e formando uma escola de futebol elegante, ágil e bastante ofensiva, tendo um colosso recém-construído para grandes festas (o estádio do Mineirão), o Cruzeiro foi além de um grande clube na cidade, construindo um esquadrão maravilhoso, com Raul, Procópio, Piazza, Dirceu Lopes, Natal, Tostão & cia, que dominou o futebol mineiro e mudou os paradigmas do futebol brasileiro ao vencer aquele que diziam ser o melhor time do mundo, conquistando seu primeiro campeonato nacional. Eles ainda deram mostras de futebol aos estrangeiros, foram desbravadores da ordem de forças no Brasil e se eternizaram como um dos melhores times da história em páginas heroicas e imortais.
Nessa época, apesar de muito combatido, não havia como fazer o Cruzeiro ser vencido.

Os acontecimentos e as transformações pareciam acontecer em grande velocidade nos anos 60, apesar da circulação das noticiais serem lentas. Não eram tempos fáceis, pelo mundo eclodiam movimentos rebeldes, inflados por novas culturas, musicas e artes gerais. No Brasil ainda se vivia sob regime militar, mas esses ideais mundanos também eram respirados. A abstinência de liberdade trazia a necessidade do novo, porém, nem mesmo o futebol servia de antidepressivo após a derrota na Copa do Mundo de 1966, fazendo reviver antigas tristezas e complexos. As pessoas só puderam ter uma nova esperança ao olhar o céu e avistar uma linda constelação de cinco estrelas. Foi também observando nos gramados de Minas Gerais e do Brasil, com o símbolo do Cruzeiro do Sul ao peito, que viram um time jovem e ousado surgir, jogando com a mesma velocidade da transformação do mundo, ao ponto de inverterem forças no futebol nacional.

Muitas gerações já haviam marcado época ao longo da história pelo futebol mineiro, como o América de 1916 a 20, o Villa Nova de 1932 a 35 ou o Atlético MG de 1946 a 56. Enquanto o Cruzeiro, embora tenha possuído uma grande equipe no final da década de 20, com Bengala, Ninão, Nininho, Niginho & cia, faltava ao clube azul de Minas um esquadrão de grande hegemonia como dos rivais. Demorou um pouco, mas quando surgiu da própria base a geração celeste foi a mais talentosa da história do futebol mineiro.

Depois de formar uma geração proveitosa (com Massinha, Procópio, Amauri, Dirceu Pantera, Raimundinho & cia) e conquistar um Tricampeonato Mineiro entre 1959 a 61, o Cruzeiro ficou alguns anos sem títulos. Assistiu não só o maior rival levantar taças, como ficou atrás de Democratas e Siderúrgica nas classificações, crescendo a insatisfação pelos desempenhos da equipe. Por volta da temporada 1964, a diretoria celeste resolveu então procurar no próprio clube uma mudança: decidiu trocar Mário Celso de Abreu no comando técnico por Ayrton Moreira, que já era funcionário do clube e havia treinado a equipe em 1957. 
 
“O Cruzeiro era um antes dele. Ficou famoso e respeitado no mundo inteiro sob o seu comando. E não foi mais o mesmo depois que ele saiu.  (...) A Airton Moreira se deve a década de glórias que o Cruzeiro viveu no Mineirão (...) e a sua confirmação definitiva como um dos grandes do futebol brasileiro, além, evidentemente, da revelação de craques fabulosos como Tostão e Dirceu Lopes".  publicou o jornal Estado de Minas.

Não se arrependeriam. Com ousadia, paciência e visão inata de futebol, o novo treinador passou a promover alguns dos jogadores promissores da base celeste, como o polivalente Pedro Paulo, o genial Dirceu Lopes e o velocista Natal, entre outros. Daria espaço ao médio Piazza, fortalecendo melhor a defesa e a saída de jogo. Aproveitaria também um jovem de muita técnica, inteligência, criação e definição, seu nome era Tostão. Se desenhava assim o início da Academia Celeste. Seria preciso ainda uma organização de maior liberdade, diferente dos esquemas táticos mais defensivos usados pelos seus irmãos (Zezé e Aymoré), Ayrton pretendia métodos mais ofensivos, sendo o uso de jovens essencial para um jogo propositivo. Dando toda a emancipação aos garotos nos treinos, o técnico  teve em mãos o protótipo esquadrão de futebol alegre, agressivo e vocacionado para gols.
 
 
O PRIMEIRO CAMPEÃO DA ERA MINEIRÃO

Passado o ano de reformulação, o Cruzeiro fez do recém inaugurado estádio Mineirão um dos palcos mais importantes do futebol nacional e alcançou trunfos de fazer valer sua camisa estrelada. O começo até foi instável no Campeonato Mineiro de 1965, mas aos poucos o time celeste passou a encaixar de maneira perfeita. A defesa contava com Pedro Paulo, William, Neco e Piazza, e o ataque já mostrava categoria, criativo e definição letal, com Dirceu Lopes e Tostão, Hilton Oliveira e Marco Antônio. A equipe celeste chegou a ficar invicta por 19 rodadas, com goleadas diante do Renascença (4x0), Siderúrgica (5x0), Villa Nova (5x0), Nacional (7x0) e Guarani (7x1), além dos triunfos nos clássicos: 2 a 1 e 3 a 2 sobre América e 1 a 0 diante do Atlético MG, gol de Tostão. Conheceu sua única derrota frente ao Renascença,  porém, chegariam as 18 vitorias em 22 jogos, com 69 gols marcados e apenas 16 sofridos. Nessas rodadas finais, o Cruzeiro venceu novamente o Galo por 2 a 1, gols de Dirceu Lopes e Marco Antônio, e aplicou outras goleadas (6x0 Uberlandia e 8x3 no Siderúrgica), consagrando a conquista  daquela jovial geração de craques na primeira vez que um clube deu a volta olímpica no Mineirão, obtendo a classificação inédita para uma competição nacional.

 
 
No primeiro semestre do ano seguinte, como preparação antes do estadual que iniciaria dia 07 de julho, o Cruzeiro também mostrou seu poderio diante de estrangeiros. Em janeiro venceu por 5 a 4 o Rapid Wien, da Áustria. Quatro meses depois, mais precisamente dia 29/05, goleou o Belenenses (Portugal) por 5 a 2, com quatro gols de Marco Antônio e um de Evaldo, conquistando o Quadrangular Internacional de Belo Horizonte.
 
Seriam duas frentes naquele ano de 1966, era o momento de fazer história e o elenco foi ainda mais reforçado, com o goleiro Raul e o retorno do zagueiro Procópio, ajustando definitivamente a defesa. Lá na frente chegava o meia-atacante de boa técnica e muita capacidade de gols, Evaldo. Pronto. Nada mais podia parar a equipe, aflorando ainda mais jogo ofensivo e ágil, com entendimento perfeito de uma das maiores duplas do mundo, Dirceu & Tostão, o Cruzeiro confirmou seu domínio em Minas Gerais. Abusou das contas dilatadas em 7x0 no Formiga, 6x3 no Uberaba, 5x1 no América MG, 6x1 no Valeriodoce, 6x3 no Villa Nova, 5x0 no Democratas, 9x0 pra cima  do Nacional, e venceu o confronto decisivo com o maior rival por 2x0. Foram incríveis 20 vitórias em 22 jogos (fora um empate e apenas uma derrota), com 77 gols marcados, média 3,5 por jogo. Tostão foi o grande artilheiro assinalando 18 vezes. O Cruzeiro chegou ao Bicampeonato Mineiro sem grandes dificuldades. Àquela altura, já havia começada também seus compromissos na Taça Brasil.
 

Ayrton Moreira viu nos garotos do Cruzeiro um potencial magnífico, que de fato rendeu frutos muito além do que se imaginava, passando as fronteiras de Minas Gerais. Diferente da calmaria habitual dos mineiros, aqueles jovens craques tinham uma eletricidade incansável, um jogo criativo em constante agitação, tudo dentro de uma ideia sempre vocacionada para gols. Com tanta vitalidade e entusiasmo, conseguiam muitas vezes fazer algo hoje visto como revolucionário ao futebol do passado: a marcação pressão na saída de bola. Assim, não só envolviam com inteligência os adversários ao propor jogo, como faziam muitas defesas entregarem o ouro e os rapazes não perdoavam. Não era só ataque, porém, naquele Cruzeiro. O time era completinho. Lá atrás a proteção era garantida com o espetacular Raul, Procópio e os polivalentes, Neco, Pedro Paulo e William. O centro de equilíbrio entre defesa e ataque tinha a medida certa com Piazza. Lá na frente, claro, o fator diferencial, pois não havia como parar a velocidade de Natal e Hilton, os gols de Evaldo e a genialidade de Dirceu Lopes e Tostão ou vice-versa.


AULA DE FUTEBOL PARA O BRASIL NUNCA ESQUECER

A primeira grande competição nacional havia surgido em 1959, sob nome de Taça Brasil, dando ao vencedor o status de Campeão Brasileiro e uma vaga na Copa Libertadores da América. O primeiro campeão foi o Bahia, em seguida o Palmeiras, e desde 1961 a hegemonia era de um Santos arrasador e Pentacampeonato consecutivo, não se sabendo ao certo quem poderia findar tal monopólio. Na edição de 1966, participaram 22 equipes e 21 estados do Brasil foram representados. No grupo do Centro, o Cruzeiro começou inapelável aplicando 4 a 0 e 6 a 0 sem deixar o Americano ver a cor da bola. Assim, chegou a decisão do grupo do Centro-Sul, para enfrentar o Grêmio e poder chegar às semifinais. Em Porto Alegre a partida terminou zerada. Mas em Belo Horizonte, com cerca de 40 mil pagantes, o Campeão Mineiro não deu trégua e derrotou o Campeão Gaúcho por 2x1, gols de Tostão e Marco Antônio. Para a fase sequente, acreditou-se que o Cruzeiro já teria feito seu papel e o favorito Fluminense passaria nas semifinais. Ledo engano. Diante de 55 mil pessoas, no Mineirão, a vitória foi até magra por 1x0, gol de Evaldo aos 30 do segundo tempo. Mas dentro do Rio de Janeiro, com toda a pomposa imprensa carioca, o Cruzeiro deu aula de bola, com jogadas incríveis e controle de jogo admirável, fazendo 3 a 1 no Tricolor carioca, Evaldo aos 13’ e aos 50’, Dalmar aos 27’, fizeram os tentos mineiros. Pelo outro lado da Chave, na outra semifinal, mesmo perdendo um dos jogos por 5 a 3, o Santos venceu os outros dois duelos (2x0 e 4x1) frente ao Náutico e confirmou seu favoritismo para a decisão.
 

Com apresentações sensacionais até aquele momento feitas pelos dois times finalistas, a decisão entre o brilhante time do Cruzeiro, que surpreendeu a imprensa carioca, e o consagrado Santos, dono de uma hegemonia nacional quase interminável, ficou sob enorme expectativa no Brasil. A primeira partida foi jogada em uma quarta feita à noite, do dia 30 de novembro, levando 77.325 pessoas ao Mineirão, renda recorde de 222 milhões. Treinado por Lula, o Santos foi a campo com seu poderoso esquadrão, formado por Gilmar, Carlos Alberto, Mauro, Zito, Lima, Dorval, Toninho, Pelé, Pepe & cia. O Cruzeiro de Ayrton Moreira formou com Raul; Pedro Paulo, William, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira.

Confiando em seu ataque poderoso e apressado nas saídas de jogo, o Santos iniciou querendo resolver rápido, mas se perdeu na velocidade e esperteza dos rapazes do Cruzeiro. Com apenas 1’ de jogo, Zé Carlos não conseguiu impedir o perigo cruzeirense e marcou contra a própria meta santista. Mais 4’ no relógio e Dirceu Lopes achou o rápido ponta direita Natal para anotar 2x0! Sem deixar o adversário recompor, aos 20’ e aos 39’ Dirceu Lopes (acertando um chute de trivela a meia altura no canto; depois aproveitando um rebote) ampliou o massacre em 4 a 0. Ainda deu tempo de Tostão fechar (de pênalti, aos 42’) o primeiro tempo em incríveis 5 a 0! Todos estavam estupefatos com o resultado, a torcida mineira ficou incrédula com o espetáculo, conceptiva aula de futebol, o Cruzeiro estava esmagando a melhor equipe do mundo. No começo do segundo tempo, porém, Toninho marcou duas vezes para o Santos, e dado o respeito que impunha o poderoso quadro santista, a torcida mineira ficou tensa. Mas aos poucos o controle voltou a Academia Azul, que buscou ampliar e conseguiu aos 27’, com mais um gol de Dirceu Lopes, fechando 6x2, numa das maiores goleadas já feitas no Santos de Pelé & cia.
 

Após aquele jogo, não se tinha mais dúvidas daquele esquadrão cruzeirense ser uma equipe especial, mas a imprensa ainda indagava se o Cruzeiro suportaria à pressão do Santos no Pacaembu (?), pois o quadro alvinegro dificilmente perdia duas partidas seguidas. No dia 07 de dezembro, passados 25 minutos do primeiro tempo, parecia mesmo confirmado que o Cruzeiro não aguentaria o Santos, que com Pelé e Toninho abriu 2 a 0 no placar, e ainda criando oportunidades de ampliar. Fim do primeiro tempo e os dirigentes paulistas já estavam marcando o jogo da volta. A torcida mineira que acompanhava ansiosa em Belo Horizonte, além dos que foram ao estádio estavam silenciados e temendo pelo pior. Parecia ser necessário o terceiro jogo. Ao jovem time do Cruzeiro restava encontrar tranquilidade na segunda etapa, achando aos poucos. Tostão perderia um pênalti, o erro ao invés de abater fez o craque se impor mais no jogo. Aos 18’, falta no bico direito da grande área, Tostão cobrou, com efeito, e acertou o couro nas redes (1x2). Dez minutos depois, Dirceu Lopes pegou um rebote e empatou (2x2). Reacendiam as esperanças. Com o Santos cada vez mais perdendo força e sem conseguir reagir, o Cruzeiro ainda deu o golpe que selou a façanha aos 44’, aproveitando jogada pela esquerda, o diabo loiro Natal entrou pelo meio da área e completou, 3x2! A conquista foi apoteótica, deixou o futebol mineiro cheio de vaidade, pois na realidade o Cruzeiro que era o grande Campeão Brasileiro (invicto) de 1966, escrevendo mais uma página heroica e imortal!
 
“Com o gesto olímpico de vitória, Piazza, o jovem capitão da equipe do Cruzeiro, de Minas Gerais, tras esperança ao coração de todos os torcedores brasileiros. Uma nova geração de craques está florescendo. O nosso futebol mostra que seu poder de renovação ainda existe, e disso o time de Tostão deu uma prova das mais convicentes nas duas categóricas partidas que disputou contra o poderoso esquadrão de Pelé, nas finais da Taça Brasil. (...) O grande título que o time mineiro conquistou tem, assim, uma significação mais ampla e um saber de renascimento. Demonstra, mais do que tudo, que o nosso maior esporte não se estagnou e nem se abateu. E justifica, plenamente, a recepção triunfal que os campeões brasileiros de 66 receberam na volta a Belo Horizonte e que divulgamos na detalhada reportagem que fecha essa edição”. – Descreveu a revista o Cruzeiro, a mais lida do país na época, dia 24 de dezembro de 66.
 

“A dimensão pode ser comparada a um Mundial. Claro, que a gente tem que se transportar para aquela época. Nos anos 60 não havia condições de divulgação como tem hoje. O título, sem dúvida alguma, é o maior da história do clube. Por causa do momento, porque abriu as portas para Minas, o Cruzeiro se tornou conhecido, porque bateu o Santos de Pelé. Era um time guloso, que gostava de jogar para frente, o compromisso sempre foi atacar, atacar e atacar. Esse foi o título de maior expressão da época e até hoje repercute. Já se passaram 50 anos e estamos aqui conversando sobre isso”, comentou o goleiro Raul Plassman.
“Era ganhar do melhor time do mundo. Não só o fato de ter Pelé, mas o Santos era uma verdadeira Seleção Brasileira. E o Cruzeiro, por outro lado, era um time praticamente desconhecido. O futebol mineiro era um exportador de jogadores para o Rio e para São Paulo. Eu penso que foi a conquista mais importante da história do Cruzeiro (...)”, afirmou o meia Dirceu Lopes.


Depois de fazer história com uma conquista que mudou o paradigma das forças no futebol nacional, ganhando cada vez mais torcedores, o Cruzeiro queria ampliar sua hegemonia em Minas Gerais, assim podendo disputar novos nacionais. A temporada já começava com uma vitória sobre a Seleção do México, para inflar o valor do plantel, que era bastante forte, já contando com o meia Zé Carlos revezando no meio-campo. Pelo Campeonato Mineiro, apesar de campanha franca e goleadas como os 5 a 1 no Villa Nova, a equipe teria de se desdobrar para conseguir o Tricampeonato. Pois, não bastasse a mudança na sua comissão técnica, perdendo o grande construtor da equipe Ayrton Moreira, devido  problema de saúde, passando ao comando de Orlando Fantoni e Gérson Santos, o maior rival estava imparável. Abrindo larga vantagem na tábua de classificação, o Atlético ainda chegou a fazer 3 a 0 na partida decisiva com o Cruzeiro (16/11), que poderia lhe garantir o título, depois de ver os Azuis perderem Tostão (lesionado) e ter o defensor Procópio, expulso. “Tínhamos que fazer o impensado: marcar três gols em trinta minutos, com um jogador a menos e ainda por cima enfrentando aquele bom time do Atlético. Parecia impossível”, diria Evaldo.

 

Não se podia mesmo duvidar de uma equipe que surpreendeu o Brasil. Em uma das maiores reações da história do Mineirão, com público de  90.838 pagantes, a Academia Celeste marcou com Natal aos 16’ e 18’, e Piazza aos 30’, empatando o jogo improvável (3x3). Depois, nos dois compromissos finais, enquanto o Atlético nervoso oscilou, o esquadrão azul empatou a desvantagem de pontos, levando o título para a decisão-extra. 14 de Janeiro, com gols de Natal e um de Vander (contra), o Cruzeiro demoliu o Atlético em 3x1. Na semana seguinte enfiou mais 3 a 0 no Galo, gols de Tostão (artilheiro da edição com 20 gols), Dirceu Lopes e Evaldo, sagrando-se Tricampeão Mineiro e mostrando que aquela geração era capaz de coisas incríveis.
Mas nem tudo foi festa aquela temporada. Abaixo do tom, a orquestra cruzeirense encerrou a participação na Taça Brasil apenas no terceiro lugar, caindo para um surpreendente e forte Náutico. Os trabalhos de reestruturação tinha de ser otimizados e o show não podia parar.

 
O SHOW TINHA DE CONTINUAR AZUL
 

Aos poucos a equipe foi entendendo a nova filosofia de trabalho, sem perder as características  de jogo insinuante, leve e agressivo, mas acrescentando atenção maior na marcação. O efeito surtiu no Campeonato Mineiro de 1968, com o Cruzeiro jogando de forma intensa e arrasadora nos 22 jogos que fez: obtendo 17 vitorias e cinco empates. Algumas novas peças acrescentaram valor ao forte grupo, como a volta do meia Marco Antônio, a efetivação de Rodrigues na ponta, Darci Menezes e Mário Tito na defesa. Com destaque para algumas goleadas (6x0 no Uberlândia, 10 no Independente, 5x1 no Villa Nova, 5x1 no Valeriodoce) e triunfos diante do América MG por 2 a 0  e o Atlético MG por 2 a 1. Tostão mais uma vez foi artilheiro (20) e a quarta conquista consecutiva acabaria sendo invicta, não haviam rivais no estado, o futebol mineiro tinha um dono: o Cruzeiro Esporte Clube.
Vale destacar ainda naquele ano, a vitória cruzeirense sobre os argentinos do Boca Juniors (que seria campeão argentino em 1969) por 3 a 2.
 

Repetindo a dose no ano seguinte, a Academia Celeste jogou em ritmo frenético e venceu os dois turnos do Campeonato Mineiro sem nenhuma derrota: 14 vitórias no primeiro e 12 no segundo, totalizando 26 triunfos, entre outros 4 empates. Novos jogadores como Vanderlei e Moraes chegaram e também surgiriam bons valores da base como Palhinha. Intensidade no ataque como nos acachapantes resultados de  8x0 no Tupi, 5x0 no Sete de Setembro e  5x0 no Usipa, além de eficiência nos clássicos: 1x0 e 3x0 no Villa Nova, 1x0 e 2x0 no América MG e por duas vezes 1x0 no Atlético MG. Mostrando que o Cruzeiro até podia ser combatido, mas jamais vencido! O ciclo foi fechado com esse Pentacampeonato Mineiro (1965-1969).

Se no estadual a hegemonia foi mantida, o Cruzeiro não conseguiu voltar a conquistar um título nacional com a nova forma de jogo da equipe, ficando em honroso quarto lugar no Campeonato Brasileiro (Torneio Roberto Gomes Pedrosa) de 1969. A equipe, porém, mostraria força ao vencer o Campeão Argentino (Vélez Sarsfield) por 2 a 1 no segundo semestre. Muito além das conquistas e o futebol maravilhoso abrilhantando o Brasil, o Cruzeiro foi um dos grandes nomes da Era de Ouro do futebol nacional. Foram cedidos três jogadores na Copa do Mundo de 1970, no México, um reserva (Fontana) e dois fundamentais na conquista: o médio que atuou de defensor Piazza e o genial ponta de lança Tostão. Se lamenta ainda a não ida de Dirceu, devido excesso de grandes camisas 10 na época. Em todo caso, o Brasil era o país do futebol e o Cruzeiro um dos maiores símbolos desse valoroso momento! 

 
SEM A MESMA SINTONIA

Após a Copa, a sintonia do time mineiro passava a ser outra. Marcando possivelmente o último grande momento daquela geração maravilhosa, que já vinha fadando seus últimos brilhos e desfazendo sua espinha dorsal, o Time Azul de Minas ainda venceria um Triangular Internacional (Mundialito), na Venezuela, frente ao Porto-POR e ao Celta-ESP de Vigo. Pela primeira metade dos anos 70, já sem Tostão e outras feras, o Cruzeiro continuaria forte no estado e no Brasil, sob liderança de Dirceu Lopes, mas nada comparável a sintonia e a capacidade do time que conquistou o Brasil e colocou o futebol mineiro no mapa de vez, modificando ideias retrogradas do futebol brasileiro.
CONQUISTAS & CAMPANHAS

- Campeão Brasileiro (Taça Brasil) 1966
- Pentacampeão Mineiro 1965.1966.1967.1968.1969

OS FEITOS HISTÓRICOS & LEGADO

- O Cruzeiro colocou o futebol mineiro no mapa, foi o primeiro clube mineiro Campeão do Brasil.
- O Cruzeiro construiu uma hegemonia no futebol mineiro, com um Pentacampeonato Mineiro consecutivo.
- Superaram um dos melhores time do mundo, sendo o único time a golear o Santos de Pelé & cia numa decisão oficial.

- A conquista nacional do Cruzeiro marcou definitivamente um novo momento do futebol brasileiro. Reascendeu a força dos outros estados, provando de uma vez por todos que havia futebol forte e de categoria além do eixo Rio-São Paulo e também renovou o espirito brasileiro em busca do tricampeonato, na Copa do Mundo de 1970. Mundial ao qual o Cruzeiro contribuiria com atletas titulares.