A primeira tentativa de juntar clubes europeus em uma competição foi em 1897. John Gramlick, um inglês, co-fundador do Vienna Cricket and Football Club (mais conhecido como Cricketer), da capital austríaca, é considerado o principal mentor da Challenge Cup, um desafio onde cada país participante do Império Austro-Húngaro, poderia ter dois times na competição. Apenas Budapeste, Praga e a capital Viena foram representadas no primeiro certame, que teve como campeão o time de Gramlick, o Cricketer de Viena.
Vienna Cricket and Football Club, primeiro campeão da Challenge Cup.
NASCE A COPA MITROPA
A importância em citar a Challenge Cup, se dá, que após a longa recessão e as dificuldades que a Guerra trouxe ao continente, de uma forma ou outra, o futebol não deixou de ser praticado, sendo inclusive um instrumento importante na retomada da auto-estima e da identidade nacional no pós-guerra. Em outras palavras, não restavam muitas satisfações na vida de alguns jovens, a não ser jogar futebol, seja para esquecer as dores e perdas, ou para almejar alguma carreira nos esportes, um setor que por entreter as massas, se encontrava em pleno aquecimento.
Nessa época, o futebol mais vistoso praticado na Europa residia no leste do continente, onde por meados da segunda década dos anos 20, as ligas nacionais começaram a se profissionalizar, o que permitiria a possibilidade de pagar salários aos atletas e dirigentes, que então poderiam focar completamente no futebol, ou trabalhar menos e em profissões não tão arriscadas, que dividiam o tempo da sua preparação como atletas. Áustria, Hungria e Tchecoslováquia, foram um dos primeiros países a se profissionalizarem, o interesse pelo futebol já levava multidões aos estádios.
Em 17 de julho de 1927, uma reunião comandada por Hugo Meisl, presidente da Confederação Austríaca de Futebol, estabeleceu as regras para uma nova competição nacional, que se chamaria Mitropa Cup. O nome escolhido foi uma abreviação da termo alemão Mittel Europa, para designar a Europa Central. Assim como na ancestral Challenge Cup, cada um dos países participantes poderiam ter até dois times, eram eles Hungria, Áustria, Tchecoslováquia e Iugoslávia. O sistema adotado era o mata-mata, com partidas de ida e volta.
OS PRIMEIROS CAMPEÕES
Já em 1927, foi disputado pela primeira vez o torneio, que foi vencido pelo time do Sparta Praga. Os tchecos eram chamados de Iron Sparta, ou Sparta de Ferro, um nome perfeito para designar aquele time que era considerado por muitos o melhor do mundo, muito por seus feitos em partidas amistosas, que tinham ares de oficiais, como, por exemplo, quando bateram o Nuremberg da Alemanha por 5x2, em 1921, num jogo amistoso armado para decidir quem seria o melhor clube da Europa.
Sparta Praga 1927
Em 1928, os húngaros do Ferencváros, sagraram-se como campeões, o que acirrou ainda mais a rivalidade no torneio, que já era um sucesso de público e crítica. Como é de se imaginar, a rivalidade entre Áustria e Hungria, que antes integravam o mesmo império ia muito além dos gramados, mas se mantinha sadia, dando mais visibilidade ainda ao torneio.
No ano de 1929, a Itália substituiu a Iugoslávia como participante do torneio, quatro times italianos disputaram as duas vagas para ingressar na Mitropa, foram eles, Juventus e Ambrosiana (antigo nome do Inter de Milão) e em outra partida Milan e Genova, os vencedores da vaga foram Juventus e Genova. Os italianos foram eliminados facilmente, e o campeão do histórico ano de 1929, o ano da quebra da bolsa nos EUA, foi a equipe húngara do Újpest Football Club.
Em 1930, o Servette, clube suíço, paralelamente à Copa do Mundo, convidou, os países campeões de Áustria, Hungria, Bélgica, Tchecoslováquia, Alemanha, Itália, Holanda e Espanha, para uma competição que foi chamada Copa das Nações. Esse torneio é citado em muitas fontes como sendo o real pai da Champions League, mas só houve essa única edição, que foi vencida pelo Ujpest, que ao superar o Slavia Praga por 3 x 0, decretou continentalmente o poder do futebol húngaro. Já na edição da Mitropa, o título voltaria a Áustria, com o Sk Rapid Wien, de Viena, vencendo a final. Não é necessário dizer, essa alternância entre Áustria e Hungria refinava o charme da competição a cada ano.
1930 DÉCADA DE OURO DA MITROPA
No começo dos anos 30, e logo após um time húngaro vencer a Copa dos Campeões, todas as atenções da Europa voltaram-se à Mitropa. A edição de 1931 foi vencida pelo First Viena, o clube mais antigo de futebol da Áustria, o que reequilibrou o número de títulos entre os dois maiores países vencedores, Áustria e Hungria. Tudo apontava para um ano de desforra em 1932, onde um dos dois países desempataria o número de títulos, mas... Quiseram os deuses do futebol, que a competição aquele ano fosse a mais emblemática das edições da Mitropa.
O que ocorreu é que nas semifinais, num jogo entre Slavia Praga e Juventus, na última partida, onde o Slavia já havia vencido a primeira pelo placar de 4 x 2, o Juventus abriu rapidamente o placar com dois gols de vantagem, então, temendo tomar o derradeiro terceiro gol, a equipe do Slavia passou a atrasar a partida, com múltiplos recuos, o que irritou a torcida italiana, que começou a atirar pedras no campo, uma delas ferindo o lendário goleiro do Slavia, Plánicka. A equipe correu para os vestiários, e por lá permaneceu até o clima melhorar, o que levou horas. A organização da competição, considerou desrespeitosa a atitude de atrasar o jogo, e puniu os dois times com a eliminação do torneio, o que pode parecer duro, mas era compreensível nos padrões da época, sendo assim, o outro finalista foi considerado como campeão natural, e ele seria time do Bologna, que havia passado sobre o First Viena, o campeão do ano anterior. Sendo assim finalmente teríamos um campeão da Europa Central, e italiano! Esse ano marca uma impressionante transformação na mentalidade europeia sobre o futebol.
Na década de 30, os nomes mais emblemáticos como os de Sindelar, Meazza, Sárosi brilharam nos gramados da competição, entre outros como o argentino Orsi e o lendário Bican, que é apontado por alguns estatísticos como o maior artilheiro da história no futebol, superando inclusive o nosso Pelé. Em 1933, as vésperas de uma nova copa mundial de seleções, o Áustria Viena de Walter Nausch e Sindelar vence a competição. Em 1934, o número de representantes por país foi alargado para 4, e o Bologna foi campeão, mas dessa vez disputando regularmente a final.
Vale dizer que a Mitropa foi muito importante no desenvolvimento das ligas nacionais e das seleções, o que justifica como o time da Ásutria era temido em 1934 e posteriormente, como a Itália dominou o mundial de seleções. Aliás, a copa de 1934 foi decidida entre Itália e Tchecoslováquia.
Mesmo que tudo decorresse bem, como sabemos historicamente, o nazismo impediu que a Áustria, anexada à Alemanha, pudesse participar do torneio em 1938, e já sofrendo as consequências da guerra vindoura, apenas dez dos vinte inscritos participaram em 1939. A final de 1940 foi cancelada devido ao início oficial da Segunda Guerra Mundial, temendo que a aglomeração de torcedores no estádio pudesse se tornar um verdadeiro banho de sangue. A Mitropa só voltaria a ser disputada novamente em 1955, porém, o mundo já era outro, os tempos eram outros e seu brilho já não era mais tão intenso.
CAMPEÕES E NÚMEROS
Entre os maiores artilheiros da competição, no período de 1927-1940, destacam-se nomes que são a primeira grande leva de craques do futebol europeu:
1 - Dr. György Sárosi (Ferencváros TC) - 50 gols e 42 partidas
2 - Giuseppe Meazza (AS Ambrosiana-Inter) - 29 golos e 27 jogos
3 - Géza Toldi (Ferencváros TC) - 29 golos e 42 jogos
4 - Gyula Zsengellér (Újpest FC) - 24 golos e 19 jogos
5 - Matthias Sindelar (FK Austria Wien) - 24 golos e 31 jogos
6 - Oldrich Nejedlý (AC Sparta Praha) - 22 golos e 42 partidas
7 - István Avar (Újpest FC e Rapid Bucure? Ti) - 19 gols e 24 partidas
8 - Raymond Braine (AC Sparta Praha) - 19 gols e 40 partidas
9 - Franz Weselik (SK Rapid Wien) - 17 golos e 22 jogos
10 - Josef Bican (SK Rapid Wien, SK Admira Wien e SK Slavia Praha) - 15 golos e 15 jogos
11 - Ferdinand Wesely (SK Rapid Wien) - 15 golos e 25 jogos
Fontes:
http://www.rsssf.com/
Wikipedia
Isaque Argolo