Como muitos outros aquela época conheceu o futebol através de Charles Miller, sendo por intermédio de um tio alemão influenciado a inscrever-se para jogar no Germânia, clube de maiorias alemães. O jovem acabou, contudo, inicialmente impedido por ser mulato. Sendo graças a intervenção de Hermann Friese, que o clube de origens germânicas revogou as proibições, assim possibilitando Arthur Friedenreich dar os primeiros passos como jogador, em 1909. Treinado por Friese, o craque reinventou o jogo dando-lhe ingredientes mais insinuantes, maleáveis e perfeccionistas, chegando ao seu esplendor como o próprio relatou em sua autobiografia: “Fui aperfeiçoando meus recursos olhando Charles Miller, chutando a redonda sob seu olhar, que foi assim como o meu professor primário no futebol. Mas coube a Hermann Friese, que fora campeão no futebol alemão, me ensinar o secundário e o superior. Com ele, comecei a subir a ladeira e cheguei à efetivação no nível mais alto do futebol”.
Com bastante criatividade em suas ações no jogo, foi um pioneiro no chute de efeito, na finta e no drible de corpo - muitos atribuem a ele a invenção dessas jogadas. Tinha um bom porte físico, com 1,75 de estatura e 54 kg. Como a maioria dos homens, chegou a possuir algumas vaidades ao longo da vida, gostava de vestir ternos de linho irlandês, tomava conhaque francês na confeitaria Vienense e fumava cigarros Pour La Noblese. Mas foi com suas grandes habilidades nos campos, com arrancadas irresistíveis e agilidade nos movimentos, que se destacava, fazendo com que, aos poucos, muitos já nem reparassem em sua aparência mulata. Notavelmente era um craque prodígio e passava a ser cobiçado para jogar em todos os cantos. O próprio afirmou em autobiografia: “Fui infalível ali naquelas domingueiras, chegando a correr três matches de enfiada, mudando camisas com a mágica de um transformista. Tirava a de um clube, e logo enfiava a de outro" . Assim, passou ainda por curto período nos primeiros quadros do Americano de SP, no Clube Atlético Ypiranga (foi artilheiro do estadual de 1917, com 15 gols) e também no Paysandu, até finalmente, em 1918, jogar pelo Club Athletico Paulistano, seu principal clube.
"Esse mulato de olhos verdes fundou a maneira brasileira de brincar. Ele rompeu com os preceitos ingleses: ele ou o demônio que entrou na sola de seu pé. Friedenreich levou ao solene estádio dos brancos a irreverência dos garotos de cabelo castanho que se divertiam em disputar uma bola de farrapos nos subúrbios. Assim nasceu um estilo, aberto à fantasia, que prefere o prazer de resultar. De Friedenreich em diante, o futebol brasileiro que é brasileiro realmente não tem ângulos retos, como as montanhas do Rio de Janeiro e os prédios de Oscar Niemeyer ". – escreveu o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano. Na Imagem Friedenreich com a camisa do Paulistano.
O chute de Friedenreich abriu o caminho para a democratização do futebol brasileiro.”
- escreveu o jornalista Mário Filho, no livro "O negro no futebol brasileiro".
Seu grande apogeu, certamente, ocorreu na conquista do Sul-Americano de 1919, onde brilhou como astro do torneio e foi considerado o melhor jogador brasileiro. Assinalou um hat-trick na estreia contra o Chile (6x0), fez construções ofensivas contra a Argentina (3x1) e marcou o gol do título na estafante decisão de tempos extras contra o Uruguai. Nas comemorações foi carregado no campo e depois pelas ruas do Rio de Janeiro, tendo suas chuteiras ficado expostas numa joalheria na Rua do Ouvidor, com as pessoas lá estacionadas para admirar. Foi a primeira manifestação da massa em torno de um nome do futebol - relembrou o jornalista Máximo. Pixinguinha ainda compôs o choro “Um a Zero”, em sua homenagem. Sediando novamente o torneio, o Brasil conquistaria o Bicampeonato do Sul-Americanao em 1922 e Friedenreich, apesar de não estar pleno ou marcar gols, ajudou a equipe no grande feito.
Logo na estreia, dia 15 de março, os brasileiros deram demonstrações espetaculares por 7 x 2 contra o Selecionado Francês, sendo dois gols de Fried, fazendo a imprensa francesa considera-los "Les Rois du football" (Reis do Futebol). Onze dias depois, veio o triunfo por 3x1 frente ao Stade Français, com Fried novamente deixando o seu. Após a única derrota (1x2, em 29/03), a equipe reencontrou a vitória dia 02 de abril vencendo o Bastidienne (Bordeaux) por 4 a 0, com tres gols de Friedenreich. Dois dias depois, venceu por 2 a 1 o Havre/Normandie por 2x1, tendo Fried aberto o placar. Repetiram a dose cinco dias depois, na estreia pela Suíça, diante do CS Strasburgo, com o El Tigre deixando o seu. Depois de venceram por 2x0 o FC Berne e o campeão Suíço Young Fellows por 1x0, Friedenreich voltou a assinalar pelo Paulistano na vitória sobre o CA Rouen por 3x2, dia 19 de abril. Em terras Lusitanas, nove dias depois, a Seleção Portuguesa sofreu inapelável derrota por 6x0, Fried marcou duas vezes, isso com a equipe brasileiro deixando o gramado antes do fim do jogo para não perder horário do navio, em retorno ao Brasil. O CA Paulistano encerrou somando 30 gols em 10 jogos pelo exterior, com Fried marcando 11 vezes. Foram 9 vitórias alcançadas pelo Reis do Futebol, em atuações pela França, Suíça e Portugal. Fried tornou-se o primeiro “Roi du Football” (Rei do futebol) e foi recebido como herói nacional, inclusive pelo então presidente Artur Bernades.
Após a excursão, com mais uma cisão no futebol paulista, o Paulistano passou a disputar as Ligas da LAF a partir de 1926, sagrando-se campeão daquela edição. Assim como dos certames de 1927 e 29, ambas com às artilharias de Fried, que também foi o máximo marcador de 28, chegando a fazer incríveis 7 gols na vitória do Paulistano por 9x0 frente ao União da Lapa, dia 16 de setembro daquele ano, batendo um recorde de época. Friedenreich se dedicou 11 anos no Supercampeão e chegou a possuir direito de uma carteirinha de sócio militante.
José Moraes dos Santos Neto, em seu livro Visão do jogo no Brasil, qualifica suas gambetas (movimentos oscilantes do corpo) como mágicas; e ele afirma que era um jogador corajoso, de performance bonita, capaz de continuar brincando com dois dentes quebrados pela violência daqueles que não podiam detê-lo. Na Imagem Friedenreich com a camisa do São Paulo.
Com o fim das atividades do Paulistano em 1930, grande parte dos sócios do clube migraram para fundar o São Paulo F.C., em 25 de janeiro daquele ano. Friedenreich foi um dos grandes personagens da fundação do novo clube, que passou a jogar no campo da Floresta. Ao lado de outros vultos, formou a equipe conhecida como Esquadrão de Aço ou Tigres da Floresta (com Clodô, Barthô, Luisinho, Araken, Armandinho & outras feras), ajudando o clube a conquistar o primeiro Campeonato Paulista em 1931, após golear o Corinthians por 4 a 1. Fried teve grande destaque na campanha marcando 30 gols. No ano seguinte, voltou a obter marcas importantes, marcando 32 gols em 26 partidas no estadual. Em 1933, dia 12 de março, participou do primeiro jogo profissional da história do futebol brasileiro e foi autor do primeiro gol sob novo regime (Santos 1x5 São Paulo, na Vila Belmiro). Depois, chegou a deixar o futebol de lado por um tempo por motivos extra-campo.
De volta da Guerra retomou a carreira e atuou até 1935, tempo para torna-se um grande ídolo do tricolor paulista. Em 81 partidas disputadas pelo São Paulo, Fried marcou 63 gols e ostenta uma média de 0,814 gol por jogo, o maior artilheiro são-paulino por média na história. Sua última partida pelo São Paulo aconteceu no dia 02 de setembro de 1934, na vitória sobre o Palestra Itália por 1×0. O gol foi marcado pelo próprio Friedenreich, aos 18 minutos do segundo tempo. Chegou ainda a atuar pelo Atlético MG, Santos, entre outros times e combinados. Encerrando de vez suas apresentações no Flamengo, em 1935, aos 43 anos.
Chuteiras penduradas e vida longe dos campos, Friedenreich virou funcionário da Companhia Antarctica Paulista (atual Ambev). Foi embaixador da marca e durante quase três décadas viajou o Brasil divulgando a empresa. Não chegou a ficar rico ou alguma outra carreira no meio esportivo, apos o trabalho de propaganda viveu de forma humilde e sempre reservada. Nos últimos anos, chegou a escrever uma auto-biografia.
Nome: Arthur Friedenreich
Nascimento: 18 de julho de 1892, São Paulo, Brasil. Faleceu em 06 de setembro de 1969, em São Paulo (BRA).
Posições: Atacante ou Centroavante.
Principais clubes: Germânia (1909 e 11), Ypiranga (1910, 13, 1914-15 e 1917), Mackenzie (1912), Americano (1913), Paysandu (1915 e 16), Flamengo (1917 e 35), Paulistano (1916, 1917 a 1929), Internacional/SP (1929), Atlético MG (1929), Atlético Santista (1929), Santos (1929 e 35) e São Paulo (1930 a 35).
Principais Títulos: Copa América (Sul-Americano de Seleções) de 1919 e 1922; Copa Roca 1914; Campeonatos Paulista 1918, 1919, 1921, 1926, 1927, 1929 e 1931; Copa dos Campeões Estaduais de 1920 e 1932; Taça Ioduran 1918 e Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais de 1922 e 23.
Prêmios Individuais: Artilheiro da Copa América de 1919, do Campeonato Brasileiro de Seleções estaduais em 1922 e dos Campeonatos Paulista de 1912, 14, 17, 18, 19, 21, 27, 28 e 1929; eleito o Melhor jogador Sul-Americano em 1919; eleito um dos 100 melhores jogadores do século XX pela eleição internacional da revista italiana Il Venerdi e considerado o 5º Maior jogador Brasileiro, 13º maior sul-americano e 54º do mundo no século XX pela IFFHS.