Nascido na comuna italiana de Conegliano, na região de Vêneto, no dia 9 de novembro de 1974, Del Piero era uma espécie de atacante polivalente. Podia atuar tanto como ponta de lança, como um intermediário entre o clássico camisa dez e o homem mais avançado. Não seria nenhuma heresia considerá-lo como o maior jogador da Juventus em Todos os Tempos, clube que defendeu por 19 anos. Onde tem uma relação única com a torcida e construiu um legado que o qualificam como também um dos maiores nomes do futebol no Calcio.

É curioso saber que um dos atacantes mais importantes do mundo, começou na sua tenra idade jogando como goleiro. O pedido pela posição fora uma recomendação especial de sua mãe. Del Piero tinha um irmão mais velho, também jogador, que até chegou a atuar pelas categorias de base do Sampdoria, chamado Stefano, que não teve o mesmo brilho como profissional. Veio de Stefano o primeiro olhar apurado para Alessandro, que recomendou a mãe, que o talento natural do irmão, era para jogar como atacante. Assim foi feito.

O INÍCIO

Aos 13 anos, em 1988, foi observado por olheiros do Padova, que convidaram Del Piero para o juvenil, onde treinou e se aprimorou até os 16 anos. Sua estreia profissional foi promovida em 15 de março de 1992, em partida contra o Messina, na Serie B italiana. Em sua primeira temporada, não marcou gols, também apenas jogou quatro partidas. Na temporada seguinte, veio o primeiro gol, e mais participações como titular, atuando em 10 jogos. Mas algo de diferenciado já era possível de se notar no jovem jogador. Que na janela de transferências de verão de 1993, fora pinçado pela Juve, de onde assistiria uma temporada iluminada de Roberto Baggio, que se tornaria seu mentor e ídolo, muito além de companheiro de equipe.

Del Piero entrando em campo para marcar seu primeiro gol pelo Padova.

O contexto do futebol na Itália, na chegada de Del Piero era o seguinte: a Serie A reunia alguns dos principais jogadores do mundo, o Milan da escola de Arrigo Sacchi e posteriormente Fabio Capello, dominava o campeonato nacional, e também exercia um domínio continental, mas 1993, seria algo como um movimento histórico para a equipe alvinegra de Turin.

Giovanni Trapattoni foi o visionário capaz de ver o grande potencial daquele jovem, mesmo atuando pouco tempo pelo Padova. O treinador também assumiu a necessidade de lapidar aquele talento, reconhecendo que aos 18 anos o jovem não estava ainda à altura de integrar o time principal. Del Piero foi disponibilizado pela maior parte do ano para o time dos juniores, onde ele teve tempo para absorver a cultura da cidade e do clube e não queimaria etapas. Mas sua estreia pela Juventus principal não tardaria, ocorrendo em 12 de setembro de 1993, em partida contra o Foggia.

Del Piero havia sido campeão nacional pelo time júnior da Juventus, o Primavera, sendo considerado o melhor jogador do plantel na competição. Isso o habilitou a chance entre os profissionais. Entrou no jogo substituindo Fabrizio Ravanelli, e como sabemos, dali seria iniciada uma lenda. Talvez os torcedores no estádio não sentiram ainda naquele momento o impacto da história, pois o jovem não teve uma atuação de encher os olhos, muito menos balançou as redes. Mostrou personalidade suficiente para estar entre os selecionados para o próximo jogo.

O Craque entrando para sua primeira partida em 1993.
 
Seis dias depois, na rodada seguinte, entrou aos 80 minutos contra a Reggiana, diante de sua torcida, e ali sim, marcaria seu primeiro tento. Del Piero já sentiu que imediatamente seria mais acionado do que no Padova, isso talvez lhe provocou um ritmo de evolução constante, e veio ganhando mais minutagem a cada rodada do campeonato. Seu segundo gol viria apenas na rodada 27, contra o Genoa. Uma curiosidade é que fora expulso no mesmo jogo onde marcou seu segundo gol.

Em sua primeira partida como titular, contra o Parma, em 20 de março de 1994, marcou seu primeiro hat-tirck. Três gols que serviram para mostrar ao mundo que ali estavam um dos mais promissores jogadores da nova safra. Terminou aquele ano de 1994, consolidado como titular, com 14 jogos e 5 gols, além do vice-campeonato italiano. Mesmo jogando entre os titulares, disputou torneios também pelo sub 20 e foi campeão da Taça Viareggio e do campeonato italiano sub 20. No ano seguinte, Marcelo Lippi assumira o comando do clube, e deixaria Del Piero definitivamente no time principal, como reserva imediato do trio de ataque, formado por Baggio, Ravanelli e Vialli.
 

O Padova entraria mais uma vez no destino de Del Piero. Roberto Baggio, o maior astro do time, sofreu uma contusão em novembro de 1995 em uma partida contra o clube, restando a Lippi, lançar regularmente seu talismã. A inclusão do craque no plantel principal, com seu status de titular finalmente inabalável, rendeu sucesso. A Juventus trouxe o scudetto que já não conquistava em nove anos, ganhou também na mesma temporada, a Copa da Itália. Dessa feita foram 50 partidas, 10 gols e 12 assistências. Observando esses números, podemos ver como o craque foi participativo nas conquistas do clube.

A GLÓRIA

Quando a janela de transferências de 96 se abriu, o Milan fez uma proposta por Baggio, e a Juve aceitou, visando que tinha um substituto a altura. Del Piero então, herdou a camisa 10 de seu ex-companheiro. Antes de Baggio, apenas Michel Platini tinha sido camisa 10 da Juve. uma responsabilidade imensa. Aceitou o papel, e cumpriu-o, marcando 13 gols, em 43 partidas, ofereceu também 12 assistências.A Juve perdeu o scudetto para o Millan de Baggio, mas era inegável, o posto de ídolo do clube tinha um novo ocupante. Na Champions League daquele ano, bateriam o atual campeão Ajax nos penais por 4 x 2, depois uma emocionante final empatada em 1 x 1 no tempo regular. Essa era a segunda Taça dos Campeões conquistada pela Juventus. Del Piero foi vice-artilheiro da competição com 6 gols. Ganhou o título individual de melhor jogador do torneio. Lograria também o quarto lugar na disputa pela Bola de Ouro do mesmo ano.


A temporada seguinte, seria igualmente avassaladora, para a Juventus e para Del Piero, reconquistando o scudetto e a Copa da Itália e também chegando mais uma vez a final da Champions. Na final continental foram batidos pelo Dortmund, com Del Piero voltando de lesão. Marcou um gol quando entrou em campo, mas não foi suficiente para eliminar os alemães que venceram por 3 x 1. Para o planejamento de 98, o clube surpreendeu, com as saídas de Ravanelli e Vialli, e as chegadas de Inzaghi e Zidane, Del Piero então poderia migrar para o ataque, deixando as armações de jogadas com o francês. O novo ataque funcionou incrivelmente bem, sendo essa a melhor temporada de Del Piero em número de gols pelo clube, foram 35, com a Juve ganhando o bi-campeonato italiano e fazendo excelente campanha na Champions, chegando para a terceira final consecutiva, onde Del Piero foi artilheiro com 10 gols. Na final, foram derrotados pelo Real Madrid por 1 x 0, dando adeus novamente ao sonho do tri. A final também representou um momento particular para Del Piero, que se contundiu na partida e comprometeu sua participação na Copa do Mundo de 1998, sendo substituído por seu ex-companheiro Baggio. Del Piero estreou apenas no segundo jogo da Copa do Mundo, estando visivelmente abaixo de seu rendimento ideal. A Itália foi eliminada nos penais para a França, que seria campeã do torneio.

A partir de 1998, Del Piero começou a sofrer com algumas lesões, uma ruptura nos ligamentos do joelho, deixaria o craque de fora grande parte da temporada de 98-99, o que deixou seu time em visível carência no setor de definição das jogadas. Foram pouquíssimos jogos, apenas 14, além de uma dolorosa readaptação. As lesões começaram a gerar certa desconfiança da imprensa e torcida, dizendo que Del Piero não era um jogador de partidas decisivas, popularmente, dizendo que o craque pipocava nas finais.

Quando Ancelotti assumiu a equipe, encontrou Del Piero em recuperação física e emocional. Sua estratégia foi escalar o craque como um segundo atacante, quase como um armador, porém nessa função ele teria liberdade para flutuar entre o ataque e o meio, o que pouparia um pouco mais do jogo extremamente físico que as zagas italianas impõem. A ideia funcionou, e o jogador terminou a temporada com 45 partidas, ou seja jogando mais regularmente e com notáveis 25 assistências. Perderam o scudetto para a Lazio por apenas um ponto!

Nos ano seguinte, podemos destacar a brilhante seleção italiana da Euro de 2000, mas que perdeu para a França de Zidane. E mais um vice campeonato na Serie A, para a Roma, comandada por Totti. Mais um ano em que as lesões atrapalharam muito o craque, além de uma certa falta de sintonia com Inzaghi, que deixaria o clube na janela de transferências seguinte. O clube também venderia Zidane ao Real Madrid, numa transferência recorde. Nedved e Trezeguet integraram o novo trio. Sem Conti, em 2001, Del Piero ganha a faixa de capitão, e a Juve conquista um novo scudetto.

UM NOME PARA A HISTÓRIA- DOS BONS E MAUS MOMENTOS DA JUVE

A Itália chegou motivada para a Copa do Mundo de 2002, mas perde nas oitavas de final para a Coreia, num jogo que ficou marcado como uma das mais injustas da história do futebol. Confirmando seu poderio no Calcio, a Itália conquista mais uma vez a Serie A. E tem em Del Piero seu principal nome. A Juventus chega mais uma vez a final da Champions 02-03 e contra o Milan, onde foi para mais uma emocionante disputa de penais, vencida pelo Milan, com três defesas de penais executadas por Dida. A ressaca do vice campeonato talvez tenha balançado a Juve, que não foi bem na temporada seguinte, era necessário uma transição, e para o novo ciclo foi anunciado Fabio Capello.

Del Piero ganha um companheiro de ataque, Ibrahimovic, Capello, desconfiando do físico do craque italiano, começa a usá-lo como um reserva de luxo. E foi assim durante o conturbado período do treinador no time. E não houve muita contestação, pois após um campeonato italiano irregular, o novo treinador levava mais uma vez a Juve ao título nacional em 05-06. Em 10 de janeiro de 2006, Del Piero se sagrou o maior artilheiro da Juventus.

Na Copa do Mundo de 2006, foi super útil à Seleção, marcando gols decisivos como na semifinal contra a Alemanha na segunda etapa da prorrogação, liquidando de vez qualquer chance de reação da Seleção anfitriã e marcando um dos pênaltis na final, ajudando assim a conquistar o título mundial. Marcelo Lippi, escalou o craque como um homem de confiança, já que seu novo camisa 10, era Totti. O time finalmente se vingara da França. Mais não imaginavam o carma que caíria sobre a Itália. Um escândalo que estourou durante a Copa do Mundo mancharia o nome da Federação Italiana, foi identificado que diversos clubes, estavam evolvidos em compra de arbitragem, inclusive a Juve, que perdeu os dois últimos títulos, num tribunal, e foi rebaixada.

Logo após conquistar a Copa do Mundo em 2006 havia pouco a comemorar, uma rede de compra de resultados foi desmantelada em toda a Itália e a Juve seria a principal acusada, sendo rebaixada a Serie B. Além de perder prestígio, jogadores e sofrer uma pesada multa, o time também começou a competição pela divisão inferior com 9 pontos negativos, como punição.

Del Piero disputou a Serie B em 2007, mesmo sendo campeão mundial, optou por estar ao lado do clube nesse momento difícil. O time se desmontou, e os jogadores que ficaram, se tornaram consagrados pela equipe. Ao voltar para a Serie A, ele responde a mídia reforçando seu amor toda vez que questionado o motivo de não deixar a Juve. Dali em diante, ele já sabia que vivia seus últimos momentos da carreira, e jogava com mais amor ainda a sua esquadra, batendo recordes, liderando a equipe e sendo uma referência cada vez mais unânime na história da Juventus.

Em 2012 decidiu se aventurar no futebol australiano, pelo time do Sidney FC, porém, antes de deixar o clube, a Juventus vence seu último scudetto com Del Piero de forma invicta, eternizando a parceria entre os dois. Após duas temporadas na Austrália, o jogador escolheu a Índia para seu seu último destino como goleador, pelo time do Delhi Dynamos.