Após conquistar de forma invicta o 10º Campeonato Italiano de sua história na temporada 1978-79, recebendo orgulhosamente a primeira estrela no peito, ainda liderado pelo eterno ídolo Gianni Rivera, o AC Milan passou a não mais reencontrar os caminhos das glorias e entrou numa fase tenebrosa no inicio dos anos 1980. Fosse pelas campanhas ruins ou por um escândalo de manipulação de arbitragem (Il Totonero), que agravou toda a administração, o clube foi severamente punido, amargou rebaixamentos e teve a ingrata missão de disputar a série B do Calcio. Nem mesmo voltando a série A se norteou algo melhor, era preciso uma grande reforma para recolocar o clube italiano nos trilhos e salva-lo do colapso.
Foi em 24 de março de 1986, que Silvio Berlusconi comprou o pacote majoritário e foi nomeado o 21º presidente do Milan, iniciando um projeto de reconstrução e vanguarda. Junto com seu irmão Paolo, Adriano Galliani e Fedele Confalonieri, o polemico mandatário chegou para mudar radicalmente todo esse cenário. Com grandes investimentos alicerçou Milão a transforma-se na capital do futebol mundial.

 
 
Desde sua primeira temporada na presidência, Silvio Berlusconi passou a implementar a construção de um novo Milan, com boas contratações como o goleiro Giovanni Galli (ex-Fiorentina), o meia Roberto Donadoni (ex-Atalanta), o atacante Daniele Massaro (ex-Fiorentina), entre outros. Não era o suficiente para as grandes pretensões do mandatário, e os desempenhos abaixo nessa etapa mostraram isso. Na eliminação da Copa Itália para o Parma, contudo, à atenção foi voltada para um treinador que mudaria por completo a forma que se conhecia o futebol. O grande Milan que será formado, para alguns a melhor equipe da história, só foi possível pela aposta em um revolucionário: Arrigo Sacchi.

Afinal reunir grandes craques, apesar de aumentar as chances de sucesso, nunca foi certeza de nada. Sacchi chegava para substituir Nils Liedholm, mas foi cercado de desconfiança pela imprensa de Milão. Entre as principais criticas estava o fato dele nunca ter jogado profissionalmente, ao qual ele respondia: “Não sabia que para se tornar um jóquei você tem que ter sido primeiro um cavalo”. As contratações são mais ousadas para 1987-88, otimizadas nas ideias do treinador, sobretudo na aquisição de uma talentosa dupla holandesa: o meia-atacante Ruud Gullit (trazido do PSV em transferência recorde) e Marco Van Basten (ex-Ajax). Dentro do país, para qualificar mais o elenco, ainda chegaram Angelo Colombo (da rebaixada Udinese) e o experiente Carlo Ancelotti (ex-Roma). Esses nomes se juntam aos bons valores já presentes no clube, como o capitão Franco Baresi, o lateral-direito Mauro Tassotti, o meio-campista Alberigo Evani e o atacante Pietro Virdis.
 
 
Todo esse grande elenco seria organizado em torno de uma ideia de futebol: conservar o total controle do jogo com objetivo quando possuir a posse da bola e ceifar, minar ou destruir ao máximo o espaço do adversário quando estiver sem ela. A implementação técnica e tática dessa ideia de jogo, remetente as táticas do Futebol Total, demoraria um pouco à funcionar, algo que foi um agravante. Na época da nomeação de Sacchi, a Itália estava repleta das influências do catenaccio de Helenio Herrera, então aquela obsessão de criar um lado ofensivo não foi vista com bons olhos. “Quando comecei, a maior parte da atenção estava na fase defensiva. Nós tínhamos um líbero e marcadores de homem. A fase de ataque se resumiu à inteligência e senso comum do indivíduo e à criatividade do nº 10. A Itália tinha uma cultura defensiva, não apenas no futebol. Durante séculos, todos nos invadiram.” afirmou Sacchi, segundo o livro A Pirâmide Invertida.

RECONQUISTANDO O SCUDETTO
 
 
Apesar de um começo relativamente instável, o presidente se encarregaria da blindagem do grupo perante a imprensa, também ocorrendo rápida adaptação dos craques contratados com os nomes já existentes no clube e a assimilação as metodologias do visionário treinador, rendendo ao Milan grandes resultados já na temporada 1987-88. As primeiras cinco rodadas do Campeonato Italiano foram desgastantes com apenas 2 vitórias, outros 2 empates e uma derrota. Enquanto o Napoli vencia todos os seus jogos. O time rossoneri ainda perderia Van Basten (lesionado) e as criticas da imprensa aumentavam quanto ao trabalho de Sacchi. Mas a equipe alcançou tranquilidade vencendo por 1x0 o Hellas Verona, fora de casa, com gol de Virdis, e reverteria a situação ganhando do Pescara (2x0) e Avelino (3x0), se colocando de vez na briga pelo topo. Por pouco tudo não foi à perder, com a eliminação na Copa da UEFA, para o Espanyol, e uma derrota (na justiça) para a Roma, no San Siro, devido a torcida rossenera soltar rojões que atingiram o goleiro Franco Tancredi. Entrou a voz firme de Berlusconi e a convicção da comissão técnica, para o Milan se recuperar e desenvolver um futebol agressivo na campanha. A grande fase começou, justamente, com uma vitória no derby della Madonnina, dia 20 de dezembro, com 1x0 diante da Internazionale. Ainda ao final do ano de 1987 (metade da temporada), o meia-ofensivo Ruud Gullit recebeu a Bola de Ouro, da France Fotball, graças aos desempenhos no PSV e sua boa fase inicial no Milan.
 


 
Na volta dos compromissos em janeiro de 1988, sucederam triunfos importantíssimos. A forte concorrência com o Napoli de Maradona, reforçado de Careca e formando com Giordano o trio Ma-Gi-Ca, além de Renica, Carnevale, De Napoli e Ciro Ferrara, foi intensa. As equipes ficaram frente a frente justo no reinicio do certame. Ocasião para o Milan confirmar de vez seu grande futebol ao aplicar um espetacular 4 a 1 (de virada) pra cima do time do Sul da Itália, gols de Colombo, Virdis, Gullit e Donadoni. Na sequencia, no Olímpico de Turim, com gol de Gullit venceu por 1 a 0 a Juventus, chegando a terceira colocação. Segurar a agressividade do Milan ficava cada vez mais difícil, mesmo para as fortes defesas do Calcio. A equipe compenetrou grande série sem derrotas e venceu grandes adversários na luta do Scudeto, como a Sampdoria (2x1), a Roma (2x0) e a Internazionale por 2 a 0, gols de Gullit e Virdis. A briga no topo se afunilava e o Milan teria a decisão com o Napoli, líder com um ponto a mais na antepenúltima rodada, dia 01 de maio. Em um San Paolo com 83 mil napolitanos, o Milan contou com Virdis duas vezes (primeiro cobrando falta e depois cabeceando após jogadaça de Gullit na direita) e Van Basten no seu retorno (definindo após passe de Gullit) para superar o Napoli de Maradona, que teria dito antes não querer ver uma única bandeira rossonera dentro do estádio. No final, no entanto, ele também foi forçado a aplaudir junto dos torcedores napolitanos, aquele que era o time italiano mais forte do momento. A equipe não largou mais a liderança e completou 19 jogos invicto. A belíssima jornada de 30 partidas teve 17 vitórias e 11 empates, com a defesa (14 gols sofridos, a melhor da competição) e o ataque (43 gols marcados) já mostrando um grande equilíbrio. Após nove anos, afirmando um modelo tático inovador e um conjunto de craques incríveis, o Milan voltava a levantar o Scudetto!

O "CALCIO TOTAL" DE SACCHI
 
Ao assumir o Milan, Sacchi foi contrario as táticas protecionistas que na época eram quase leis na Itália. A maioria dos times jogava com marcação tight man-to-man, então a decisão do profeta de Fusignano em jogar com um expansivo 4-4-2, pressionar e usar um sistema de marcação zonal, foi outra razão pela qual ele é visto como um visionário, tendo seguramente um dos impactos mais profundos no futebol e nas táticas. Todo o futebol se beneficiou daquele Milan e de seu gênio do banco. “O futebol nasce no cérebro, não no corpo. Michelangelo disse que ele pintou com sua mente, não com as mãos. Então, obviamente, preciso de jogadores inteligentes. Essa foi a nossa filosofia no Milan. Eu não queria artistas solo; Eu queria uma orquestra. O maior elogio que recebi foi quando as pessoas disseram que meu futebol era como música ”. “ Eu era apenas um cara com idéias e eu adorava ensinar. Eu fiz isso (para ganhar e ser convincente) porque eu queria dar noventa minutos de alegria para as pessoas. E eu queria que a alegria saísse de ganhar, mas de se divertir, de testemunhar algo especial. Fiz isso por paixão, não porque queria administrar o Milan ou conquistar a Copa Européia” afirmaria Sacchi, que concentraria sua equipe em um jogo de sombras, para o posicionamento sem a bola. Dizendo aos jogadores onde estava a bola imaginária e a equipe teve que se ajustar de acordo com a posição da mesma. Isso ajudou no Milan na coordenação e transição, além de beneficiar o conjunto, o companheiro de equipe.

 
Era preciso jogar com mais intensidade. Ao atacar cinco jogadores sempre deveriam ficar a frente da linha da bola. Sacchi se inspirou nos conceitos das lendárias equipas holandesas 'full futeboling' dos anos 70, mas também foi responsável por algumas inovações próprias. Com sua formação dinâmica em 4-4-2, um jogo proativo e agressivo, alta intensidade pressionando pelo modo de compacidade - instruindo seus jogadores a não jogar mais do que 25 metros da defesa ao ataque. Dada marcação zonal é comum nos dias de hoje. Instruindo toda a equipe a atacar e defender como uma unidade, o que é excelente para prensagem de alta intensidade. Favorecia a equipe mais liberdade criativa para que "jogadores de futebol completos" como o líbero Baresi, pudessem tomar as melhores decisões. A combinação de forma muito fluida com mentalidade padrão oferece sinergia devido ao grande equilíbrio. Toda a equipe atacava e defendia como uma unidade. Muito mais alta na linha defensiva a fazer a marcação apertada.

 
 
Entre 10 a 25 de junho, a Holanda conquistou a Eurocopa com verdadeiros espetáculos do trio Rijkaard, Gullit e Van Basten. O Bailarino Voador foi o artilheiro da Europa com cinco gols, incluindo o da final com um chute maravilhoso. Ele receberia a Bola de Ouro da France Football do ano 1988.
Pouco depois o consagrado Trio Holandês reeditaria os incríveis desempenhos  no Milan, com a contratação de Rijkaard, que chegou a Milanello já levantando a Supercopa da Itália de 1988. Rijkaard logo tomou conta do meio-campo, sendo a engrenagem final que faltava.


A EUROPA
DOS FENOMENOS HOLANDESES E DA DEFESA INSUPERÁVEL


Para a equipe montada por Arrigo Sacchi contava o show, não o resultado a qualquer custo e foi dessa forma que o Milan jogou a Liga dos Campeões da UEFA de 1988-89. O Diavolo era uma máquina harmoniosa de jogar futebol, seus jogadores se entendiam como peças de engrenagens perfeitas, tudo dentro da ideia afirmada por Sacchi: "Sempre achei que o futebol não era apenas defensivo ou apenas ofensivo. O futebol era saber fazer tudo". Mesmo que isso envolva arriscar algo mais. Assim, vencendo fora (2x0) e dentro de casa (5x2) o Milan não teve trabalho para passar pelo Vitosha, da Bulgária. Diferente da fase seguinte, frente ao Estrela Vermelha, da extinta Iugoslávia, ao qual após dois empates (ambos por 1x1) o Rossonero só conseguiu a classificação nos pênaltis (4x2). Bastante equilibrado também foi o confronto contra o Weder Bremen, depois de empatar na Alemanha, o Milan obteve triunfo de 1 a 0 no San Siro, com gol de Van Basten, despachando os alemães.
 
 
A fase semifinal apresentou um dos embates mais apoteóticos e espetaculares da história da Liga dos Campeões, podendo ser vista como uma passagem de bastão. O Real Madrid de Sanchís, Míchel, Schuster, Butragueño e Hugo Sanchez era a melhor equipe da Europa para muitos, mas o Milan pediu passagem naqueles encontros. Na primeira luta, 100 mil pessoas abarrotaram o Santiago Bernabeu, mas assistiram ao Milan ganhar o meio-campo e pressionar a saída de bola do Real, o empate por 1x1 ficou de bom tamanho para os espanhóis. “O Milan mostrou tantas virtudes, se divertiu tanto, que até calou um Bernabéu preparado para a festa. O Madrid teve sorte. Muita sorte” escreveu o El País no dia seguinte. Na volta, em San Siro, toda a ideia de um jogo intenso, compactação sufocante e muito trabalho ofensivo, feita por Arrigo Sacchi, chegou ao apogeu: o Milan destroçou o Real Madrid em 5 a 1! Aos 19’, Gullit passou pela marcação e tocou para Ancellotti, que driblou um adversário e arrematou vencendo Buyo (1x0). Seis minutos depois, Tassoti cruzou e Rijkaard ampliou de cabeça. Aos 45’, Danadoni passou por Sanchís e cruzou, Gullit acertou uma bela cabeçada (3x0). A segunda etapa Madrid aguentou o latente jogo milanista só até aos 49’, quando Rijkaard cruzou, Gullit ajeitou de cabeça para Van Basten dominar e arrematou no ângulo – A pintura holandesa! Finalmente aos 59’, Donadoni acertou um chute rasante de fora da área e decretou o massacre de 5 a 0.

“O Milan humilhou o Real Madrid” eram as manchetes espanholas no dia seguinte! O L’Equipe deu o tom da revolução: ‘depois do Milan 5-0 Real, o futebol não poderia ser mais o mesmo’.

 
Embora tenha tido um caminho mais fácil naquela edição, o Steua Bucaresti de Hagi, Lacatus, Piturca, Rotariu e o paredão Duckadan, estava longe de ser um adversário qualquer. A equipe romena tinha conquistado a Liga dos Campeões dois anos antes, surpreendendo o Barcelona, além de obter a Supercopa Europeia em um ciclo que só se encerraria com o Pentacampeonato Romeno sendo um tricampeonato inteiro invicto, num recorde de maior número de partidas invictas em uma liga nacional, com 104 jogos.
 
 
A finalíssima ocorrente no Camp Nou, na noite do dia 24 de maio de 1989, teve um estádio completamente colorido pelos rossoneri e foi a confirmação do Calcio Total. A partida já se inicia com um abafamento do Milan, utilizando linhas altas sobre os romenos no campo defensivo, mas a trave e os milagres do goleiro Duckadan evitavam o gol. Na marca dos 18’, porém, Colombo atira de longe e o goleirão rebate mal, Van Basten se joga e atrapalha a defesa, a bola chega a Gullit para assinalar 1x0. Dez minutos depois, Tassoti cruza na área, Van Basten se antecipa e marca de cabeça (2x0). O Milan reagia voraz à perda de bola e logo recuperava. Colombo e Donadoni pressionam a saída do adversário. Sentido coletivo e explosão ofensiva atingiam o ponto mais alto.
Outros dez minutos e recuperação na transição do adversário, a bola chega a Gullit, que remata para mais um gol de belo efeito (3x0). A segunda etapa se fazia desnecessária, tudo resolvido com um tempo do jogo, mas o Milan não se dava por satisfazer e, aos 46’, após passe de Rijkaard, Van Basten chuta cruzado na saída lateral do goleiro e define os 4 a 0. O Milan era o Campeão da Europa e levava o futebol para outro estagio evolutivo. “Na manhã seguinte ao jogo com o Steaua, acordei com uma sensação que nunca tinha experimentado. Tinha este pouco usual sabor na minha boca. Então percebi que era a apoteose do trabalho da minha vida” diria Sacchi. Van Basten ainda terminou como artilheiro da competição (10 gols), e seria eleito pela segunda vez o melhor jogador da Europa (Bola de Ouro da France Football).


A conquista da Europa levou o Milan a disputa de outras duas taças. Pela Supercopa da UEFA, em um duelo contra o Barcelona-ESP de Zubizarreta, Koeman, Bakero e Laudrup, Campeão da Copa UEFA, após empate de 1x1 no Camp Nou, na partida de volta no San Siro, com gol de Evani, o Milan derrotou o time catalão e sagrou-se Supercampeão. Dez dias depois chegava a hora de viajar para Tóquio, para a disputa da final do Mundial Interclubes contra os colombianos do Atlético Nacional, que haviam conquista a Copa Libertadores da América após uma decisão dramática contra o Olímpia, do Paraguai.

CAMPIONI DEL MUNDO
 

 
Naquele 17 de dezembro de 1989, a intensidade ofensiva do Milan foi mais uma vez impressionante, tentando sucessivas vezes furar o bloqueio colombiano, principalmente com Van Basten, Rijkaard e Massaro, mas sem sucesso de tirar o 0-0 do placar no tempo normal. A proposta do Atl. Nacional de levar o jogo para os pênaltis – povoando a defesa, encerando o tempo e contando com a sorte – parecia dar certo, o cenário se repetia na prorrogação até o último minuto (14’ do acréscimo e 119’ geral), quando uma falta da entrada da área decretou o destino do jogo. Com esperteza Evani cobrou rápido e com jeito na redonda tirando da barreira mal montada, o goleiro Higuita – destaque do jogo ate então – nem conseguiu pular e a bola foi morrer no cantinho direito do gol, pondo fim a peleja: 1x0! A cereja do bolo estava aspirada como disse La Gazzetta dello Sport era um time infalível, Milan Campeão do Mundo!

Apenas um Scudeto foi obtido naquele período. Nas temporadas 1988-89 e 1989-90 os campeões italianos foram respectivamente a Internazionale (de Zenga, Bergomi, Brehme, Matthaus, Klinsmann & cia) e o Napoli (de Maradona, Careca, De Napoli, Ciro Ferrara & cia), apesar do Milan ser notavelmente o melhor time do país. Isso porque além da equipe de Sacchi priorizar as competições internacionais, um outro fator e, talvez mais preponderante, foi o nível de competitividade da Liga Calcio nos anos 1980, como um apogeu de nível técnico/tático e midiático. A competição não só ganhava os principais jornais e as televisões do mundo, como também reunia os grandes esquadrões e gênios do futebol da época. Além do Milan, Inter e Napoli, vale destacar a Juventus de Platini e a Roma de Falcão.

APOGEU DEL DIAVOLO

Chegando ao topo da hierarquia do futebol, estava claro que as pretensões do Milan para a temporada 1989-90 só poderiam ser repetir a dose. Afinal, mais difícil que chegar ao topo é permanecer nele. A repercussão planetária daquela equipe era imensa, tanto pelo futebol praticado quanto pela revolução que causavam. E após destroçar o Helsink, da Filandia, a fase seguinte voltou a colocar pela frente o Real Madrid na Copa dos Campeões da Europa. A primeira partida no San Siro foi decidida com gols de Rijkaard e Van Basten para o Milan (2x0). A partida de volta foi nervosa, com o Santiago Bernabeu tomado de 82 mil espanhóis, mas a vitória do Real Madrid com gol de Butragueno, não evitou a classificação italiana, pois além de saber atacar, a defesa milanista era perfeita.
   
Com fortes emoções também foi a disputa nas quartas de finais. Depois de obter um empate sem gols na Bélgica, o Milan não conseguiu furar o bloqueio do KV Mechelen no tempo normal. Somente na prorrogação, depois de um jogador expulso de cada lado, deixando o jogo mais aberto, o Milan conseguiu o gol com Van Basten. Na decorrência ao tentar lançar-se à frente, a equipe belga foi exterminada de vez, com gol de Marco Simone fechando os 2 a 0.
 
 
Para chegar ao ultimo desafio, o Milan ainda teve de derrubar o Muro de Berlim montado pela defesa do Bayern de München. Na Itália, em um San Siro com quase 63 mil expectadores, o Milan só chegou ao gol na etapa final com Van Basten. A partida de volta em München foi tensa, depois de bom tempo com jogadas truncadas o Bayern abriu o placar aos 15’ da etapa complementar (Strunz), mas quando tudo parecia caminhar às penalidades, a defesa alemã parou e Borgonovo saiu sozinho e deu um toquinho para encobrir o goleiro Aumann, marcando o gol fora de casa que classificou o Milan para a decisão. Mesmo com a resposta logo em seguida dos alemães (1x2).

Passando por oponentes como Honved-HUN e Oly. Marseille-FRA, e formando um esquadrão com os brasileiros Aldair, Ricardo Gomes e Valdo, os portugueses Silvino, José Carlos e Brito, além do artilheiro angolano Vata Gárcia, o Benfica alcançou sua segunda final de Liga dos Campeões em três anos. Os encarnados também venceram dois Campeonatos Portugueses no período, para consagrar uma época de glorias faltava reconquistar a Europa e acabar com a maldição de Bella Guttman.

Foi sem duvidas um jogo bastante difícil de ser resolvido no Praterstadion, em Áustria, Viena, dia 23 de maio de 1990. Quase três décadas depois da decisão em Wembley lá estavam Benfica e Milan para outra decisão. Com os portugueses projetando uma defesa solida formada pelos brasileiros e sabendo atacar também a impenetrável defesa italiana, tendo sua melhor chance com Valdo. O Milan chegou a ter as melhores oportunidades, primeiro com Van Basten sozinho frente ao capitão e goleiro Silvino, que defendeu o arremate. Igualmente Gullit, ao tabelar com o bailarino, saindo na cara do gol, mas o chute saiu em cima do goleiro português. O Benfica foi uma equipe valente apesar da superioridade do Milan e o empate persistia. Só mesmo através do avanço de Rijkaard aos 68’, surpreendendo os defensores encarnados e aproveitando passe de Van Basten, o volante invadiu a área e assinalou o gol suado e consagrador. O Milan ainda teve chance de aumentar com Gullit e novamente Rijkaard, mas terminou assim. A comemoração no gramado foi marcante, a Taça do Bicampeonato da Copa dos Campeões foi alçada por Franco Baresi, o Milan se eternizava como um marco do futebol em todos os tempos.
 

Em outubro daquele ano, seguia o script pela Supercopa da UEFA, com o Milan superando a Sampdoria de Pagliuca, Dossena e Roberto Mancini (1x1 e 2x0) e angariando mais um troféu. Na sequencia a delegação partiu rumo ao Japão, Tóquio, buscando uma façanha inédita: torna-se o primeiro clube europeu Tricampeão Mundial (algo restrito aos uruguaios do Peñarol e Nacional).

MONDIAVOLO

A decisão da Copa Intercontinental aconteceu dia 09 de dezembro de 1990. O adversário era o campeão da Libertadores da América, o Olímpia do treinado Luis Cubilla, formado por Almeida, Monzón, Amarilla, Samaniego & cia. O conjunto Sul-Americano era um forte adversário, mas a sintonia do conchavo Milanista deu a tônica superioridade da partida assim que o arbitro José Roberto Wright inicio o jogo. Cada uma das ações do Milan eram entrelinhas de mais um show, embora os gols, tenham demorado pra sair. Somente aos 43’, Gullit cruzou alto e Rijkaard usou a cabeça para fazer 1x0 na primeira fase do jogo. Passou mais 17’ da segunda etapa, para Van Basten entrar em velocidade na diagonal, driblar o goleiro Almeida e chutar, a bola desviou em um defensor e acertou a trave, Stroppa aproveitou a sobra e aumentou (2x0). Três minutos depois, Van Basten fez outra combinação de Ballet, deixou um marcador no chão e deu um toquinho cobrindo o goleiro, mas a desgranada da bola acertou caprichosamente a trave novamente, com Rijkaard mergulhando para definir os 3 a 0! Milan Bicampeão do Mundo (1989-1990) e primeiro europeu com três Taças na galeria!
 
 
O FIM DO ENCANTO: UM MARCO DO TEMPO DO FUTEBOL

Pode se dizer que a equipe encerrou seu ciclo na época seguinte (1990-91), pelas quartas de final da Copa dos Campeões da Europa, diante do francês Olympique de Marsella. Embora já fosse uma etapa degradante para reiniciar uma reconstrução, que ocorreu de forma rápida a partir de 1991, ainda contando com craques geniais como Van Basten, que foi eleito o melhor jogador da Europa (Bola de Ouro da France Football) em 1992. Mas a reformulação embora resultasse em outra equipe poderosa de 1991 a 95, não tinha o mesmo encantamento e pouco a pouco não teve mais as mesmas peças. Com a saída de Sacchi para treinar a seleção Italiana, as seguidas lesões de Van Basten, que lhe fariam encerrar a carreira precocemente, e a queda de rendimento e saída de Gullit, assim como a de Rijkaard fecharam um dos ciclos mais extraordinários da historia. Tudo bem, eles já estavam eternizados nos corações dos torcedores de todo o mundo e a cada concepção atual difundida em praticar um ideal de “jogo perfeito”.

 
 

CONQUISTAS & CAMPANHAS
Mundial Interclubes 1989 e 1990.
Liga dos Campeões da UEFA 1988-89 e 1989-90.
Supercopa Europeia 1989 e 1990.
Campeonato Italiano 1987-88.
Supercopa da Itália 1988.


OS FEITOS HISTÓRICOS & LEGADO
-
Primeiro clube europeu três vezes campeão do Mundial Interclubes.
- Foi a única equipe Bicampeão da Liga dos Campeões da UEFA por quase quatro décadas (entre 1979 a 2017).
- Duas Tríplices Coroas Internacionais.
- Aquele Milan tocou os sinos do relógio do futebol, foi um avanço do jogo rumo a modernidade. Desenvolvendo a graça, o equilíbrio, o senso coletivo perfeito, a equipe não mudou somente a ideia de jogo italiano, modificou a maneira de como se jogava e entendia futebol em todo o mundo. 
- Sacchi e seus jogadores completos pegaram o Jogo Total de quase duas décadas atrás e lhe acrescentou aprimoramentos para a difusão no futuro. Aliando marcação mais implacável, trabalho compacto dos jogadores por blocos ou zonas, marcação alta na saída de bola retirando ao máximo o espaço dos adversários com medições métricas, se completando com a técnica e a buscar incessantemente os gols.